“Vacinação com responsabilidade”
A vacina é a única proteção contra a doença que tem altas taxas de mortalidade. O risco da febre amarela é maior do que o risco da vacina planejada
O Brasil está vivendo uma epidemia de febre amarela, em 2017 ela foi a causa do falecimento de 261 pessoas e somente nos primeiros dias de 2018, o estado de São Paulo registrou 3 óbitos.
A febre amarela é uma doença endêmica, transmitida pela picada do mosquito infectado e não há transmissão direta de pessoa a pessoa, a única proteção eficaz contra a doença, é a vacinação.
Nosso país produz uma vacina altamente segura e eficaz para a proteção da doença. No entanto, as pessoas imunodeprimidas tem contraindicação vacinal, ou seja, não podem tomar a vacina e isso tem levado pacientes e médicos ao desespero, atualmente 20 estados brasileiros estão com recomendações de vacina contra a febre amarela.
Buscando soluções que visem a informação responsável sobre a vacinação contra a febre amarela, a Sociedade Brasileira de Reumatologia, por meio da Comissão de Doenças Endêmicas e Infecciosas reuniu diversos especialistas, representando as diversas comissões desta Sociedade, incluindo também os representantes de pacientes, para a criação do “Consenso sobre a segurança e resposta à vacina febre amarela em pacientes com doenças Reumáticas imunomediadas” que será publicado em breve. Para falar sobre essas recomendações entrevistamos a Dra. Gecilmara Salviato Pileggi, médica reumatologista, coordenadora dessa comissão.
As doenças reumáticas não devem ser o motivo principal da contraindicação da vacina da febre amarela, a Dra. Gecilmara, informa que nem todas as pessoas com doenças reumáticas são imunodeprimidas. O que confere o estado de imunossupressão é o conjunto de fatores que devem ser levados em consideração, além da própria doença e sua gravidade, associados aos tipos e doses dos medicamentos utilizados no tratamento, individualizado para cada uma delas. No entanto, é fundamental para a aplicação da vacina com segurança, que ela não seja realizada por contra própria, de forma inadvertida, ou seja, sem avaliação e orientação médica.
A vacinação contra a febre amarela, torna-se segura quando é planejada, seguindo as orientações médicas. O reumatologista deve levar em consideração à atividade da doença e o nível de imunossupressão do paciente, que é dividido em 3 tipos:
1. Sem Imunossupressão: são aqueles pacientes que não utilizam medicamentos imunossupressores, por exemplo quem utiliza cloroquina, hidroxicloroquina, sulfassalazina e possuem doença inativa ou controlada. Esses pacientes podem ser vacinados; caso necessite de iniciar outra medicação, DEVE-SE AGUARDAR 4 SEMANAS para tomar a vacina.
2. Baixa imunossupressão: são aqueles em uso de PREDNISONA com dose menor que 20 mg/dia, metotrexato ou leflunomida. NESTES CASOS, diante de baixa imunossupressão, o médico REUMATOLOGISTA pode recomendar a vacina e o paciente, após avaliação individualizada das condições de saúde e da atividade de doença poderão após autorização se vacinar. Importante não se vacinar sem a orientação do médico;
3. Forte imunossupressão: são aqueles que utilizam medicamentos biológicos: (Infliximabe, Etanercepte, Golimumabe, Certolizumabe, Abatacept, Belimumabe, Ustequinumabe, Canaquinumabe, Tocilizumabe, Rituximabe), ou os imunossupressores Azatioprina, Ciclosporina, Ciclofosfamida, Micofenolato. Pacientes com alta imunossupressão, não devem realizar a vacina enquanto estiverem usando esses medicamentos. O reumatologista poderá orientar a suspensão, quando possível, e o período que deve permanecer sem a medicação para o planejamento da vacina contra a febre amarela.
Entenda como deve ser o planejamento vacinal
O médico deve ser sempre consultado, e a vacina deve ser planejada. O reumatologista irá orientar a suspensão programada do medicamento e o dia em que a vacina deverá ser realizada.
O tratamento medicamentoso poderá ser reiniciado após 4 semanas da data em que a vacina foi realizada. O paciente não deve ser vacinado sem a orientação do seu médico reumatologistas.
Pacientes com doenças reumáticas que não utilizam medicamentos imunossupressores, como por exemplo, aqueles que convivem com artrose, fibromialgia, osteoporose, gota, entre outras, podem realizar a vacina conforme a orientação do posto de saúde.
Alerta para os pacientes reumáticos
Vacinar e proteger aqueles pacientes aptos a serem imunizados e criar a janela de oportunidade vacinal, faz parte do trabalho do médico reumatologista e os pacientes não devem deixar de consultar o seu médico, ressalta Dra. Gecilmara, informando que a Sociedade Brasileira de Reumatologia encontra-se empenhada em auxiliar os médicos no planejamento e vacinação adequada dos pacientes reumáticos brasileiros.
Sobre a dose fracionada
Devido ao alto índice da febre amarela, o Ministério da Saúde autorizou o inicio de uma campanha vacinal nos estados da Bahia, São Paulo e Rio de Janeiro, para atender a população, com a dose fracionada da vacina, ou seja, será aplicado 1/5 da dose de vacina da febre amarela, Dra. Gecilmara salienta que essa prática é recomenda pela Organização Mundial de Saúde e a proteção contra febre amarela é garantida também com a dose fracionada para indivíduos saudáveis, com menos taxa de eventos adversos.
Mesmo não havendo dados publicados em pacientes reumáticos, acreditamos que a dose fracionada possa, até, ser mais segura e deve ser administrada seguindo as mesmas recomendações citadas e enfatizadas acima.
Proteção contra a febre amarela
A única forma de evitar a doença é a vacina, o risco da letalidade da doença, é muito maior que o risco da vacina planejada. Antes de consultar o reumatologista, o paciente deve saber se a sua cidade faz parte da região de risco.
Consulte o seu médico e se por acaso, surgirem dúvidas, informe que a Sociedade Brasileira de Reumatologia encontra-se a disposição, por meio do email: contato@reumatologia.org.br – telefone: (11) 3289-7165 ou no site www.reumatologia.org.br
Sobre a entrevistada: Dra. Gecilmara Salviato Pileggi, reumatologista pediátrica, assistente técnico-cientifica da Unidade de Pesquisa Clinica do UPC HCFMRP-USP. Integrante da Comissão de Doenças endêmicas e infecciosas da Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR) e coordenadora do consenso de Vacina da SBR.
A nota técnica sobre vacinação contra Febre Amarela (VFA) em pacientes com doenças reumáticas imunomediadas, iniciativa da Sociedade Brasileira de Reumatologia, em parceria com as Sociedades Brasileiras de Imunização (Sbim), de Infectologia (SBI) e de Medicina Tropical (SBMT), é direcionada à profissionais da saúde e comunidade médica, pode ser consultada no link: www.reumatologia.org.br/noticias/nota-tecnica-oficial-sobre-vacinacao-contra-febre-amarela-para-pacientes-com-doencas-reumaticas/