Fruto da alegria e da gratidão de quem encontrou um doador, o projeto chamado “Sangue Bom”, é uma iniciativa do professor de Biologia, Carlos Alberto Rezende, conhecido de todos como o professor Carlão. Há cerca de pouco mais de um ano, ele foi diagnosticado com aplasia medular e desde então vem lutando pela vida, tendo encontrado um doador compatível mês passado (agosto) deste ano.
Na palestra que reuniu servidores no auditório da Escola Superior de Controle Externo (Escoex) do Tribunal de Contas de Mato Grosso do Sul (TCE/MS), o professor Carlão pôde compartilhar sua história de superação, desde quando foi diagnosticado com a doença, até o dia em que recebeu a ligação do Registro Nacional de Receptores de Medula Óssea (Rereme) informando-o que já havia sido encontrado um doador totalmente compatível, “Vejo realmente como uma bênção que recebi, porque a chance de encontrar um doador totalmente compatível é de um para cada 100 mil, às vezes demoram anos para que esse tipo de doador seja encontrado. Vejo que com essa graça alcançada, renasci de novo”, declara Carlão.
Na ocasião, o professor explicou a importância das pessoas em fazer um cadastro de medula óssea,bem como as dúvidas que envolvem o processo do cadastro: “Existe um grande mito que afasta as pessoas, desse cadastramento. Quando se em fala medula a pessoa geralmente associa com a coluna vertebral, sendo que, na verdade, a medula é um tecido gelatinoso que está presente em todo o nosso corpo, disposto entre as junções dos ossos do nosso corpo”.
Carlão disse ainda que o medo ocorre, geralmente, pela falta de informação: “Muitas pessoas pensam que para fazer o cadastramento, precisa colher a medula com a agulha em sua coluna, e não é assim, basta somente procurar um hemocentro e informar que deseja ser um doador e imediatamente será colhida uma amostra (5ml) do sangue dessa pessoa que já ficará cadastrado no banco de doadores, é totalmente indolor”, revela.
Na palestra, o professor também compartilhou que devido sua gratidão em ter encontrado um doador em tão pouco tempo, surgiu a ideia do projeto “Sangue Bom”: “A ideia surgiu quando eu estava internado. A forma de agradecer é transformar, num futuro próximo, esse projeto no Instituto Sangue Bom para continuar com essa campanha, e assim, mais pessoas encontrem um doador compatível, e, como eu, possa renascer novamente”.
O professor Carlão explicou ainda, que foi diagnosticado com aplasia medular, há um ano, no dia 21 de agosto de 2015. E que desde então vem enfrentando diversas sessões de quimioterapia e internações que duravam no mínimo três meses: “Após um ano de mobilizações e campanhas nas redes sociais, movidas pelos meus alunos e ex-alunos que tive ao longo de meus 30 anos como professor, conseguimos encontrar um doador compatível, e já no mês que vem, em outubro, farei o transplante”.
Entre os servidores presentes na palestra estava o servidor do TCE/MS, Hélio de Oliveira Neto, que aproveitou a ocasião para também dar seu depoimento. Lembrou que recentemente passou por um caso parecido com o do professor Carlão, quando sua filha Betina foi diagnosticada com leucemia. Hélio disse que também contou com a ajuda de familiares, amigos e dos colegas do Tribunal de Contas, e que foram organizadas diversas campanhas nas redes sociais e na TV para que fosse encontrado um doador para sua filha: “Infelizmente, Betina não teve a mesma sorte do professor, mas senti todo o apoio e amor que recebemos das pessoas, e por isso dou apoio total ao projeto do professor Carlão, para que todas as pessoas se cadastrem e sejam doadores, para que mais vidas sejam salvas”.
Apoio:
Sanada as dúvidas, após a palestra do professor Carlão, os servidores do TCE/MS foram convidados também para apoiar a causa, fazendo seus cadastros como doadores. O Tribunal de Contas de Mato Grosso do Sul, como forma de ajudar no projeto, disponibilizou uma sala na Escoex, onde em uma parceria da equipe do Espaço Saúde da Corte de Contas com o Hemosul, foi montada toda uma estrutura de coleta de sangue para o cadastramento dos servidores como doadores.
Para a servidora da Corte de Contas, Katiara Mônaco, a iniciativa do TCE/MS em promover a palestra é válida devido as diversas dúvidas que envolvem o tema: “O que me motivou para ser uma doadora de medula óssea foi o caso da Betina, filha do nosso colega de trabalho. Até então eu não sabia como era o funcionamento para realizar o cadastro, e hoje com a palestra do professor Carlão, vimos que é muito simples”, afirma.
Veja o passo a passo para se tornar um Doador Voluntário de Medula Óssea
1º) se cadastrar: O cadastro pode ser feito em campanhas de doação ou em um Hemocentro. Em média, dois meses após o cadastro seus dados estarão disponíveis no REDOME (Registro Nacional de Doadores de Medula Óssea). Cada estado faz o seu próprio cadastro, mas todos os dados vão para um único registro nacional do Ministério da Saúde.
2º) esperar: A compatibilidade de medula é determinada pela genética e a chance de encontrar um doador compatível com um paciente é em média 1 em 100 mil. Essa espera para doação pode durar meses ou anos. Se o sistema encontrar um paciente compatível com você (doador), eles entrarão em contato para colher uma nova amostra de sangue e confirmar a compatibilidade. Lembre-se de sempre atualizar seus dados, pois o paciente compatível pode aparecer a qualquer época de sua vida e você deve ser encontrado rapidamente.
3º) Confirmada a compatibilidade, fazer a avaliação médica: Ao ser chamado para doar um médico irá avaliar o seu estado de saúde e novos exames serão feitos. Com base nos resultados do seu estado de saúde, e da doença do paciente que irá receber a medula óssea, o médico vai explicar qual será o tipo de coleta: através de aférese (por filtragem do sangue) ou através de punção no osso da bacia.
4º) Fazer a doação: Há duas maneiras de se coletar medula óssea: O primeiro modo é a coleta pelo osso da bacia: é realizado com agulha na região da nádega, o procedimento dura 60 minutos e é feito com anestesia. O doador fica um dia em observação após o término do procedimento. Como efeito da doação, os doadores sentem uma pequena dor no local da inserção da agulha semelhante à de uma injeção, ou a uma queda num jogo de futebol, que regride em uma semana. O segundo modo é a coleta pela veia: o doador toma um remédio durante cinco dias para aumentar a produção de células-tronco. No sexto dia, as veias do doador estão cheias de células-tronco. O sangue pode ser filtrado por uma máquina que retira as células-tronco e devolve o sangue para as veias. Em geral, o processo de coleta dura de 4 a 6 horas. O efeito colateral do medicamento são dores no corpo, como as de uma gripe, mas sem espirrar, que melhora com um analgésico.
Quem não pode se cadastrar?
Menores de 18 anos e maiores de 55 anos; Portadores de HIV/ AIDS; Portadores de Hepatite B e C; Pessoas que tem ou já tiverem algum tipo de câncer; Pessoas que tenham doenças autoimunes (Artrite Reumatóide, Lupus, Fibromialgia, Esclerose Múltipla, Psoriase, Vitiligo, Síndrome de Guillain-Barre, Púrpura, Síndrome Antifosfolipidica, Sindrome de Sjogren, Doença de Crohn, Espondilite Anquilosante); Pessoas que tenham Epilepsia; Portadores de DST, com exceção de Herpes, HPV, Clamídia e Sífilis.
Fonte: A Crítica