A incompreensão já começa pelo nome da especialidade que poderia aplacar o sofrimento: reumatologia. É sério, quando arrisco me intrometer na vida de alguém achando ser um caso para o reumatologista dar uma olhada, pela reação quase indignada parece que estou mandando a pessoa para os cafundós do planeta Medicina.
Tem também aquele que me devolve uma expressão de “ah, sim, sim, pois, pois, já estava pensando mesmo num reumatologista”. Seria capaz de apostar que a maioria não faz a menor ideia de que figura se trata.
Se você sabe bem de quem estou falando, desculpa aí. Só queria colocar todo mundo na mesma linha deste texto, então. Reumatologista é o clínico do aparelho locomotor. Não cuida do osso quebrado, tampouco pega no bisturi e opera.
Olha para o conjunto de esqueleto, músculos e articulações para entender tudo aquilo que atrapalha o movimento. E são mais de 150 doenças que fazem nosso corpo, ao tentar sair do lugar, ranger, estalar, emperrar, doer e travar de vez. Uma delas é a artrite reumatoide, que acomete de 0,6% a 1% dos brasileiros.
Não somos particularmente azarados. É assim por todos os cantos desse mundo que roda, ele próprio, aos trancos e barrancos. Artrite reumatoide não tem raça, nem endereço certo.
Dói em todos. Empaca todos. Costuma ter, isso sim, uma idade mais provável para dar as caras, já que há um pico de casos entre os 35 e os 45 anos e outro entre os 55 e 60. Mas há até episódios, mais raros, de bebês com artrite reumatoide.
Ou seja, o desconhecimento é de largada: e por que acontece? Não há resposta, sem contar o velho bater na tecla de que a genética está por trás.
Ninguém explica ainda por que, até a faixa dos 40 e poucos anos, a proporção é de três mulheres com a doença para cada homem. Essa preferência pelo feminino cai um pouco — duas para cada um — entre os sexagenários.
Tem algo que a gente faça para detonar o estrago? Fumar, quem sabe. O risco de desenvolver artrite reumatoide é três vezes maior entre fumantes. Estar acima do peso é outro fator. Sim, a doença é mais frequente entre os obesos — provavelmente porque eles têm um organismo, literalmente, inflamado, facilitando o mal. Ora, ele é uma inflamação, disparada por um ataque autoimune.
Ela começa pela membrana sinovial, que embala todo o pacote da articulação — cartilagem, tendões, tudo incluído. Inflamada, essa membrana ela cresce e se insinua para as extremidades dos ossos e começa uma erosão. Invade mesmo, sem dó.
É como se a extremidade óssea fosse sendo comida aos poucos, até que a junta inteira, tomada pela membrana agindo feito posseira, simplesmente para de se mexer. “Não faz tanto tempo, o destino de quem sofria de artrite reumatoide era acabar em uma cadeira de rodas”, lembra a médica Rina Neubarth Giorgi, chefe da reumatologia do Hospital do Servidor Público de São Paulo.
Fonte: UOL