A lombalgia pode ser considerada um problema de saúde pública. Cerca de 80% das pessoas sofrerão com alguma dor na região lombar em algum ponto de sua vida. Ela está entre algumas das razões mais frequentes de incapacidade e afastamento do trabalho.
Dores são uma fonte de incômodo para o paciente de várias maneiras. Ele gasta mais com remédios e tratamentos, dispensa mais tempo para visitas ao médico buscando alguém que saiba como tratar pacientes com lombalgia da maneira adequada. Ás vezes abre mão até mesmo de suas atividades diárias ou diminui o rendimento no trabalho.
Apesar de todos esses problemas ainda tem gente que deixa de procurar ajuda assim que o problema surge. Um corpo como esse vai se desequilibrando cada vez mais que quando procurar um profissional que saiba como tratar pacientes com lombalgia, já existem tantas compensações que fica mais difícil encontrar a origem.
Como esses casos são frequentes e algumas vezes difíceis de resolver, precisamos entender o máximo possível sobre essa dor.
Separamos uma série de dicas práticas que devem te ajudar a tratar seus pacientes.
Lembre-se que isso não é uma receita de bolo, essa é uma maneira de trabalhar com a dor na região lombar e existem variações de pessoa para pessoa.
Ciclo da dor crônica
Tratar pacientes com lombalgia significa receber muitas pessoas que já passaram do estágio da dor aguda e deixaram que ela se transformasse numa dor crônica. De acordo com estatísticas, cerca de 60 milhões de pessoas sofrem de dores crônicas no Brasil, dá para perceber como essa situação é recorrente e complicada.
Quando você recebe aquele paciente que tem uma dor crônica há tempos ele está cheio de desequilíbrios porque existe um ciclo. Primeiro surge o desequilíbrio muscular e articular que pode ser leve e causado por uma má postura no trabalho ou uma atividade esportiva.
Por causa dessa alteração o corpo vai procurar uma maneira de ficar confortável, dando início ao aparecimento de compensações.
As novas compensações aumentam ainda mais aquele desequilíbrio inicial que era leve tornando ele mais intenso. Depois dessa fase aquela dor que era leve e passava tomando um “remedinho” se torna mais grave.
Devido a essa tensão a circulação de sangue diminui na área que está com dor. Isso leva à inflamação que piora o quadro de dor. Sentindo ainda mais desconforto o corpo tem seu movimento reduzido e limitado.
Conforme o movimento fica mais limitado outras musculaturas se tensionam, gerando mais dor e agravando o quadro inflamatório.
Quanto mais tempo essa dor permanecer pior será a situação do paciente na hora que ele procurar um tratamento. Essa pessoa já terá acumulado desequilíbrio em cima de desequilíbrio com várias áreas tensionadas.
Vários fatores em pacientes com dor crônica atrapalham o tratamento. A falta de mobilidade, redução da estabilidade e o medo de se movimentar por exemplo, tornam muito difícil realizar alguns exercícios com pacientes que acabaram de começar o tratamento.
Como tratar pacientes com lombalgia sofrendo de dor crônica
A dor crônica é uma situação complicada e deve ser tratada com cuidado. Além daquelas complicações físicas que afetam seu paciente, ele também possui complicações psicológicas que podem afetar a aula.
Depois de muito tempo com a dor, a pessoa já passa a esperar sentir aquele desconforto sempre que se mexe. Por isso uma coisa muito importante é conquistar a confiança de seu paciente.
Se ele não confiar em você, não terá como realizar um exercício que a pessoa pensa que será dolorido. Mas se ele estiver plenamente confiante no seu trabalho, você talvez consiga ajudar o paciente a superar esse medo do movimento.
Um profissional sem segurança em si mesmo e que não consegue passar segurança terá muito mais dificuldade em convencer um paciente a se deixar manipular, especialmente se ele estiver com dor. Lembre-se disso.
Caso a dor seja realmente muito insuportável, como em alguém com dor aguda, precisamos começar o tratamento de maneira mais lenta e evitar exercícios que envolvam a área mais afetada.
Em pacientes com dor crônica a maneira ideal de começar é resolvendo o problema de limitação de movimento. O paciente precisa conseguir se movimentar para avançar em seus exercícios.
E se o paciente estiver sem dor?
Alguns pacientes com dor crônica só sentem dor durante suas crises, que são períodos onde a limitação do movimento chega ao máximo. Fora desse período eles tem um corpo aparentemente normal.
E o que devemos fazer quando o paciente está neste período de alívio? Quem pensa que essa é a hora de relaxar e dar exercícios menos focados no problema lombar para o paciente está errado.
Precisamos aproveitar o tempo que nosso paciente passa sem dor para tratar de maneira ainda mais focada a disfunção.
Outra maneira de usar o tempo fora da crise é avaliar seu paciente. Isso é especialmente importante para quem trabalha com alguém que não tem um diagnóstico clínico fechado. Sabemos que algumas vezes os pacientes já vêm com todos os exames e indicação médica, mas a nossa avaliação, a forma que olhamos a pessoa se movimentar será muito eficiente para garantir o tratamento certo.
Avaliação de pacientes com lombalgia
Antes de começar a tratar pacientes com lombalgia e de fazer qualquer exercício você deve fazer uma avaliação cuidadosa em seu paciente. Mesmo que ela tenha dor aguda, é pouco provável que só uma musculatura esteja tensionada. Em casos de dor crônica então, você pode ter certeza que existe uma série de problemas afetando o corpo.
Através da avaliação conseguimos determinar onde está a origem, ou ao menos chegar perto disso, para conseguir direcionar o tratamento. Nessa hora lembrem-se que a avaliação não deve ser só de como seu paciente se move em aula.
Dentro do consultório ou do studio, a pessoa está num ambiente controlado, sem ou com pouco estresse e com um profissional observando seus movimentos. Mas como ele é fora dali?
Talvez esse problema lombar tenha a ver com a posição que ele adota durante o trabalho, ou com algum movimento errado que está fazendo ao praticar atividades físicas. Precisamos saber de todos os fatores externos que estão influenciando a lombalgia do paciente.
No caso de atletas, o ideal é fazer a avaliação usando os movimentos que a pessoa realiza nesta atividade. É provável que seus movimentos influenciem na lombalgia ou que estejam sofrendo compensações devido a isso, descubra como ele se move na atividade para conseguir corrigir eventuais problemas em aula.
Uma pergunta frequente que recebemos: é melhor fazer avaliação dinâmica ou estática?
Em geral é preferível fazer uma avaliação dinâmica no paciente. Pense nas atividades que a pessoa faz durante o dia: todas elas envolvem movimento. Ela está se movendo enquanto trabalha, enquanto limpa a casa, enquanto dirige. Então precisamos conseguir realizar uma avaliação através do movimento.
No caso de dores lombares a avaliação é de extrema importância para conseguir estimar a causa. Várias fáscias podem influenciar na lombalgia, portanto esse processo será capaz de determinar os resultados do tratamento.
Avaliação do histórico
Alguns pontos importantes para observar durante a avaliação são:
- Exercícios físicos praticados pelo cliente (ou se ele é sedentário);
- Histórico médico;
- Histórico de movimento;
- Tipos de atividades físicas que o indivíduo praticou no passado.
O histórico médico do paciente inclui exames de imagem, laudos e outros documentos relacionados. Ele ajuda bastante no diagnóstico já que conseguimos ver áreas com problemas e tensões. Porém existe algo que ajuda ainda mais: o histórico de movimento.
Ou seja, descubra tudo o que seu paciente já fez em sua vida relacionado a movimento. Esportes, fraturas, problemas e patologias anteriores certamente ajudam a diagnosticar o problema atual, saiba sempre o que for possível.
Uma dica: não foque só na área da dor. Especialmente em pacientes com dor crônica. Quanto mais tempo a pessoa passar com a lombalgia, menos foco devemos ter na área da lesão. Como são várias musculaturas tensionadas, as regiões que influenciam a lesão estão mais longe.
Você começou a tratar pacientes com lombalgia ou com dores crônicas? É bom entender que essas pessoas terão muito mais dificuldade para fazer uma avaliação dinâmica com muitos exercícios, então o profissional precisa entender muito sobre movimento para compreender o problema.
Interrupção de atividades físicas
Muitas pessoas ouvem “não faça tal movimento” ou “pare de fazer tal atividade física”. Mas será que essa é mesmo a melhor maneira de reabilitar nosso paciente?
Quando ele para de se exercitar e se mover provavelmente a dor vai parar mesmo, o que não quer dizer que ele está curado da patologia. No caso da lombalgia, ele só deixa de sentir dor porque limitou seus movimentos ainda mais, não porque as musculaturas e fáscias deixaram de estar tensionadas.
Ou seja, se pedirmos para um paciente parar de fazer suas atividades estamos cortando somente o sintoma momentaneamente. Assim que ele voltar a se mexer a dor retornará porque os desequilíbrios continuam ali.
Nossa recomendação é descobrir onde está o problema através da avaliação e depois encontrar uma maneira de corrigi-lo sem limitar os movimentos do paciente.
Se ela procurou você para praticar atividade física é porque ela quer se movimentar se fosse para ficar parada ela ficaria em casa.
Trabalho de mobilidade vs. Trabalho de estabilidade
Você já avaliou, conheceu os desequilíbrios e decidiu como tratar pacientes com lombalgia. Você começará com trabalho de mobilidade ou de estabilidade?
Antes de qualquer coisa saiba exatamente onde o corpo precisa de mobilidade e onde a estabilidade será mais importante. Não quer dizer que uma característica é mais importante que a outra. Se seu paciente tiver mobilidade, mas faltar com estabilidade ele estará muito propenso a lesões.
Um exemplo: na torácica precisamos ter mobilidade, caso essa mobilidade esteja comprometida a estabilidade da lombar que também é uma necessidade primária ficará prejudicada, ou seja, a perda da mobilidade torácica vai afetar a estabilidade da região lombar. Isso significa que o paciente terá mais dor, que é exatamente o que precisamos consertar numa fase inicial de tratamento.
Outra região que devemos trabalhar a mobilidade é o quadril, principalmente o músculo psoas. Provavelmente seus pacientes com esse problema apresentarão muita rigidez, nessa musculatura, e essa tensão pode aumentar ainda mais as compensações e dificultar o alívio da dor.
Outro detalhe importante para lembrar é: nunca trabalhe carga elevada nos seus pacientes com disfunção. Não importa se eles são atletas buscando melhoria de desempenho, se existe uma patologia ou desequilíbrio, precisamos consertar esse problema primeiro.
Imagine que você recebeu um nadador no consultório que está tentando melhorar seu desempenho nos treinos. Esse paciente já passou por uma avaliação e você diagnosticou que ele sofre de lombalgia com desequilíbrios musculares em diversas partes do corpo.
Se começar a fazer exercícios com carga, o que acontecerá com os desequilíbrios encontrados? Ele continuará se movimentando de forma pouco eficiente, então mesmo que exista um alívio da dor a patologia não deixou de existir.
Quem trabalha com pacientes mais avançados ou atletas pode encontrar muitas dificuldades para começar com trabalho de mobilidade. Alguns deles talvez considerem um passo atrás em seu treinamento e se recusem a fazê-lo.
Mas entenda, algumas vezes é preciso dar um passo para trás para conseguir dar vários passos para frente. Outra vez, se a confiança que seu paciente tem em você for grande, isso não será tão difícil.
Mas e se meu paciente se recusar a “voltar atrás” com exercícios de mobilidade? Você precisa convencê-lo mostrando na prática como essa falta de mobilidade está piorando seu desempenho no esporte ou durante a aula mesmo.
Esse trabalho inicial será responsável por livrar o corpo do paciente da rigidez, criando um movimento mais eficiente e fluido.
Tratando a dor no início do processo
A dor é um dos principais fatores que limita o movimento de seu paciente. Ele não consegue se mexer muito e tem medo de fazer certos exercícios porque pode incomodar. Isso é um grande problema para quem trabalha com movimento.
Obviamente, aliviar a dor é o primeiro passo do nosso tratamento.
Um detalhe importante: quando uma pessoa sente dor na lombar, várias partes do corpo desenvolvem problemas. Preste atenção no global.
Conclusão
Como vimos, as lombalgias são muito comuns na população, portanto exigem cuidados para garantir que o paciente consiga se movimentar normalmente. O primeiro passo para isso está numa avaliação eficaz.
Assim que começar a trabalhar com uma pessoa, busque descobrir o máximo que puder sobre ela. Você está atrás de possíveis motivos para essa dor, então informação nunca é demais. Avalie principalmente como ela se move nas atividades do dia-a-dia, incluindo em suas atividades físicas, e também o histórico. O que ele já fez ou deixou de fazer influencia muito.
A partir dos resultados da avaliação você consegue descobrir quais fáscias e musculaturas estão tensionadas. Quanto mais tempo seu paciente conviver com a dor, menos você deve focar na região lesionada.
Decida os exercícios levando todo o corpo em consideração, caso contrário o alívio fornecido ao seu paciente pode ser somente temporário.
Fonte: Blog fisioterapia