Sabe aquela dor que você sente quando digita rapidamente uma mensagem no celular? O pulso e o polegar começam a latejar e passa pela cabeça: “Acho que estou carregando muito peso”. Atenção, você pode estar fazendo um uso exagerado do celular.
No Brasil, foram registrados 235,7 milhões de aparelhos até fevereiro deste ano. De acordo com dados da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), o País encerrou março com quase 30 milhões de acessos ao serviço de banda larga. Isso tem um impacto direto nos consultórios médicos. As principais reclamações registradas aos ortopedistas são dores nos pulsos e no dedão: “Os celulares ainda não estão totalmente adaptados ao corpo humano. Então, a pessoa usa o polegar para navegar na internet, digitar mensagens e carregar o aparelho”, observa o ortopedista Mateus Saito, do Instituto Vita. E existe uma definição para esse tipo de patologia originária do uso de aplicativos de mensagens em excesso: a Whatsappinite.
O termo WhatsAppite surgiu em 2014 em uma publicação da revista americana Lancet, que falava sobre pessoas que usavam muitos dispositivos portáteis e apresentavam dores na base do polegar. Em português, a definição ganhou novos contornos: Síndrome de WhatsAppinite, uma referência à tendinite.
De fato, usar o aparelho celular para efetuar uma ligação está cada vez mais raro. Os aplicativos de mensagens vieram para ficar e provam que as comunicações humanas estão em transformação. Os usuários preferem escrever uma mensagem em vez de estabelecer um contato direto, como o telefônico. E os motivos podem ser os mais variados, desde o desejo de resolver rapidamente um assunto até a preguiça.
Para além da análise comportamental, os excessos de digitação nos aparelhos começaram a ser registrados já nos anos 1990, com casos de Nintendinite – uso demasiado dos primeiros consoles de jogos. Nos anos 2000, a Tendinite do SMS era comum. Em 2005, a banda Daft Punk lançou a música Technologic, uma crítica explícita ao comportamento humano frente aos novos dispositivos.
O surgimento das telas touch prometia uma mudança no quadro. Porém, não é o que está acontecendo. Saito trabalha na especialidade há 18 anos e acompanhou a mudança no perfil dos pacientes: “As pessoas que mais chegam reclamando de dores são adolescentes, entre 12 e 17 anos, e adultos jovens que usam o celular como ferramenta de trabalho”, afirma. O médico ressalta que os idosos, que já têm algum nível de artrose e que acabam aderindo ao uso dos smartphones, também aparecem. “Por sorte, eles digitam mais com o dedo indicador e não têm a necessidade de enviar uma mensagem correndo, como fazem os jovens”, na avaliação de Mateus Saito.
Para uma avaliação de diagnóstico de tendinite, artrite ou mialgia, exames mais detalhados devem ser feitos. No entanto, o ortopedista relata que, na consulta, já é possível ter indícios das doenças.
Mas como viver sem o aparelho, que é considerado praticamente a extensão das nossas mãos? O ortopedista Mateus Saito elenca uma série de dicas para conviver melhor com a tecnologia:
Faça uso consciente da tecnologia. Sempre que receber uma mensagem, verifique se precisa mesmo responder no momento ou se pode ligar;
Use a ferramenta de dedução de texto, aquela em que surgem palavras completas apenas ao digitar algumas letras;
Faça pausas regulares no uso dos equipamentos eletrônicos;
Em caso de dor, diminua o uso do celular. Se persistirem os sintomas, procure um médico especialista em mãos para fazer o diagnóstico adequado.
Para aqueles que já estão buscando ajuda, as dores são amenizadas com sessões de fisioterapia, uso de órteses para bloquear os sintomas ou terapia ocupacional, aconselha o ortopedista.
Fonte: Bem Estar – Estadão