Reza a lenda que bebidas alcoólicas cortam o efeito dos medicamentos, será verdade?
Tomo medicamentos, posso beber uma cerveja, vinho ou destilado? O álcool em suas mais diversas formas, cortam ou não o efeito dos medicamentos? É possível parar o medicamento para beber e voltar a tomar depois?
O paciente crônico que faz uso de medicamentos contínuos, deve conhecer o seu medicamento para saber se de fato, pode ou não ingerir bebidas alcoólicas, ainda que seja em pequenas quantidades, o álcool interage de diversas formas sobre o efeito dos medicamentos, não fazer efeito é apenas um dos menores riscos dessa mistura entre medicamentos x álcool.
O álcool em suas mais diversas formas, cerveja, destilados ou vinhos; agem de forma diferente conforme cada tipo de medicamentos, podendo aumentar ou diminuir o efeito, potencializando de forma radical o efeito de alguns, além de ampliar o risco de causar uma alteração hepática, conhecida como “hepatites tóxicas”, ou lesionar a mucosa estomacal, gerando gastrites e erosões gástricas ou até levar a complicações neurológicas.
Os efeitos colaterais dessa perigosa mistura, pode se manifestar ainda com efeitos secundários, tais como; sonolência, dor de cabeça, vômitos e alterações gástricas.
Muitos pacientes crônicos, param de tomar seus medicamentos de uso contínuo para poder beber ocasionalmente, no entanto, todos os medicamentos para doenças crônicas, depende do ciclo de continuidade para fazer seu efeito terapêutico adequado, por isso, ao pular algumas doses, o medicamento deixa de fazer efeito, abrindo oportunidade para agravamento da doença crônica que estava sendo tratada.
Para beber de forma consciente, é importante conversar com o médico e conhecer os medicamentos que estão sendo utilizados, para só então decidir, se pode ou não consumir bebida alcoólicas e estabelecer a quantidade e frequência.
Beber, não é proibido, mas para quem usa medicamentos, a moderação e cuidados devem ser redobrados. Apresentamos abaixo as classes de medicamentos que o uso de bebidas alcoólicas interagem e podem causar efeitos potencializados, diminuídos e ainda, efeitos colaterais, como consequência.
Para consultar a classe de medicamentos que você utiliza, acesse nesse link a bula de seu medicamento www.bulas.med.br e tome decisões conscientes e saudáveis.
Relação bebida alcoólica e medicamentos
Analgésicos e anti-térmicos:– Depende da molécula que são formados. No caso do Paracetamol e da Dipirona, que são os medicamentos mais conhecidos, a velocidade de eliminação do remédio do sangue vai ser mais rápida com a bebida e, da mesma forma, o efeito vai ser menor. Um estudo relatado na revista Hepatology acompanhou 662 pacientes com insuficiência hepática aguda durante um período de seis anos e descobriu que o acetaminofeno foi a causa mais comum de hepatite medicamentosa.
Analgésicos narcóticos: medicamentos como a morfina, codeína, propoxifeno e meperidina, quando combinados com álcool podem tem ampliado o seu poder sedativo, aumentando o risco de morte. Uma única dose de álcool é capaz de causar alterações significantes, portante durante o uso de medicamentos analgésicos narcóticos, é expressamente proibido consumir bebidas alcoólicas.
Anti-histamínicos: medicamentos como a difenidramina (Benadryl e outros) o álcool pode intensificar a sedação causada por alguns anti-histamínicos. Estes medicamentos podem causar tonturas excessivas e sedação em pessoas idosas; Os efeitos da combinação de álcool e anti-histamínicos podem, portanto, ser especialmente significativos nessa população.
Antibióticos: o ideal é não beber enquanto estiver utilizando antibióticos, se beber durante o uso de antibiótico a resposta esperada pode ser comprometida. Beber e tomar antibiótico pode ainda levar a alguns efeitos colaterais como; náuseas, vômitos, cefaleia e possivelmente convulsões.
Anticoagulantes: O consumo agudo de álcool aumenta a disponibilidade de varfarina, aumentando o risco de hemorragia potencialmente fatal. O consumo crônico de álcool reduz a disponibilidade de warfarina, diminuindo a proteção do paciente contra as conseqüências dos distúrbios da coagulação sanguínea.
Anticoncepcionais: – Tem moléculas de colesterol, da mesma forma que os anabolizantes e corticoides. O remédio fica cerca de 24 horas no organismo e depois é eliminado, mas com a bebida a duração pode cair pela metade. Isso pode causar problemas, já que a mulher pode achar que está protegida. O ideal é que nos primeiros seis meses de uso do anticoncepcional, a bebida seja diminuída.
Antidepressivos: – São remédios que vão diretamente para o sistema nervoso central. O álcool inicialmente aumenta o efeito do antidepressivo, deixando a pessoa mais estimulada. Mas após passar o efeito da bebida, a pessoa se sente ainda pior, e a depressão pode aumentar por fatores como ressaca e fadiga, que a bebida pode deixar.O álcool aumenta o efeito sedativo dos antidepressivos tricíclicos, como a amitriptilina, prejudicando as habilidades mentais necessárias para a condução.
O consumo agudo de álcool aumenta a disponibilidade de alguns tricíclicos, potencialmente aumentando seus efeitos sedativos. O consumo crônico de álcool parece aumentar a disponibilidade de alguns tricíclicos e diminuir a disponibilidade de outros. Um produto químico chamado tiramina, encontrado em algumas cervejas e vinhos, interage com alguns antidepressivos, como inibidores da monoamina oxidase, para produzir um aumento perigoso da pressão arterial.
Antidiabéticos: Consumo agudo de álcool prolonga o efeito dos Hipoglicemiantes Orais e o consumo crônico de álcool diminui, a disponibilidade, perdendo a eficácia.
Anti-inflamatórios não esteroides (AINEs): A bebida aumenta a eliminação do remédio pelo corpo, o que acarreta em diminuição do efeito do medicamento. Pode acontecer uma sobrecarga do fígado e rins já que a bebida e o medicamento vão ser metabolizados no fígado e eliminados nos rins.A utilização de álcool e anti-inflamatórios, pode levar à sangramento estomacal, favorecendo ainda a formação de úlceras e gastrites. Portanto, não é recomendação, consumir bebida alcoólica em uso de anti-inflamatórios.
Corticoides:– Medicamento derivado do colesterol, ou seja, tem muita gordura e é metabolizado de forma mais lenta. A bebida pode atrapalhar o efeito esperado pelo médico.
Medicamentos antipsicóticos: medicamentos como a clorpromazina durante o consumo agudo de álcool tem seu efeito sedativo aumentado, resultando em comprometimento da coordenação e trazendo dificuldades respiratórias que podem ser potencialmente fatais, podendo ainda ocasionar em lesão no fígado.
Metotrexato e Leflunomida: consumir álcool usando metotrexato ou Leflunomida, aumenta a sobrecarga do fígado e rins, pois o MTX e o álcool são metalizados no fígado e eliminados pelos rins, a sua combinação pode causar lesão hepática, manifestada por hepatites tóxicas.
Sedativos e hipnóticos: os famosos medicamentos para dormir, a base de benzodiazepínicos como o diazepam, flurazepam, lorazepam, misturados com álcool podem provocar sonolência grave, aumentando o risco de acidentes domésticos e automotivos.
Relação entre artrite reumatoide e bebidas alcóolicas
Combinar álcool com qualquer tipo de medicamentos pode trazer riscos para a segurança do paciente. Durante o tratamento, decidir quando o paciente pode ou não consumir bebida alcoólica é uma decisão que deve ser compartilhada entre o paciente e o médico, e não é uma decisão fácil. Sabemos que alguns pacientes param de tomar os medicamentos nos dias em que pretende beber, isso é uma decisão errada que pode comprometer a eficácia do plano terapêutico e destruir o sucesso do seu tratamento medicamentoso, nunca interrompa o ciclo de um medicamento.
Durante anos, os médicos pesquisaram a ligação entre o álcool e a artrite reumatoide, alguns estudos apontam que o consumo moderado de álcool pode aliviar alguns sintomas da AR, no entanto, o consumo de álcool pode aumentar o risco de complicações da artrite reumatoide e causar interação com os medicamentos utilizados no tratamento não somente da AR, mas de outras doenças reumáticas.
Uma pesquisa publicada na revista “Rheumatology”, descobriu que as pessoas com Artrite Reumatoide que consumiam bebidas alcoólicas com frequência tinham menos sintomas graves da AR, quando comparadas com pessoas com AR que raramente bebiam, ou nunca beberam.
Outro recente estudo realizado na Suécia, descobriu que mulheres que beberam mais de três bebidas alcoólicas por semana por pelo menos 10 anos, reduziram o risco de desenvolver AR em 50%. Os pesquisadores acreditam que o álcool ajuda o sistema imunológico a ter resistência contra a inflamação da artrite reumatoide.
Cerveja, vinho e bebidas alcoólicas de uma forma geral, podem diminuir a densidade óssea, favorecendo o aparecimento de “osteoporose”, doença que pode ser concomitante a artrite reumatoide, principalmente pelo uso de corticoides. O uso excessivo de álcool pode comprometer a força do esqueleto, por interferir com a desagregação e a reconstrução do tecido ósseo.
Preconiza-se que, ao utilizar medicamentos, tenham cautela no consumo de bebidas alcoólicas, com moderação e atenção para a interação entre os medicamentos que estão sendo utilizados e seu comportamento no organismo, quando associado ao álcool. Dependendo dos medicamentos a recomendação de moderação se limita a uma bebida por dia para as mulheres e até duas bebidas por dia para os homens.
Consumo de álcool pode comprometer a avaliação médica
Frequentemente o paciente com Artrite Reumatoide e outras formas de doenças reumáticas, realizam exames de controle, entre eles, estão o TGO + TGP + Fosfatase alcalina (provas de enzimas hepáticas) e Creatinina + Ureia (provas renais). Com o consumo frequente de álcool, esses exames podem apresentar-se alterados, dificultando a avaliação segura do médico reumatologista. É recomendado não beber nos dias que antecede a coleta de exames de sangue.
Conheça os perigos do álcool na artrite reumatoide
Risco de quedas: uma pessoa alcoolizada apresenta dificuldade motora, portanto, independente dos medicamentos em uso, deve-se evitar o “ficar bêbada (o), pois alguns sintomas da artrite, como a fraqueza, fadiga e rigidez, podem contribuir para o aumento do risco de queda, em pessoas com artrite embriagadas.
Fraqueza muscular: o consumo de álcool em excesso amplia a fraqueza muscular e potencializa a rigidez, e o consumo crônico de álcool, a exemplo pode levar a perda de massa muscular em pessoas com artrite reumatoide. Por isso, pessoas com AR devem evitar o risco de se tornarem dependentes de álcool, isso pode agravar seu estado geral.
Sono: o consumo de álcool pode interromper o sono e tornar a qualidade prejudicada, evite tomar álcool à noite. Não dormir adequadamente, favorece a fadiga natural da artrite reumatoide. Recomendação válida também para pacientes fibromiálgicos.
Depressão: conviver com artrite reumatoide já é um risco para o desenvolvimento de quadros depressivos, a dor e as limitações trazidas pela doença são um grande agravante que podem ser potencializados se ocorrer o consumo crônico de álcool.
Consuma com moderação e compartilhe essa decisão com o seu médico.
Fonte:
http://www.everydayhealth.com/rheumatoid-arthritis/living-with/rheumatoid-arthritis-and-alcohol/
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4116451/
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