Os pseudo-motivacionais na praça adoram falar que quem quer consegue, ou que fulano se quisesse melhorar não ficava à toa o dia inteiro. Muitas condições de saúde são realmente incapacitantes e por vezes são estigmatizadas por envolver uma apresentação comportamental desfavorável. Na coluna desta semana, vamos conversar com a reumatologista Dra. Ana Júlia Bicalho.
O primeiro passo é entender o que é o reumatismo. Afinal é doença de velho?
Vamos começar falando do termo “reumatismo”, porque ele traz muita confusão! É muito usado como sinônimo de doença reumática, mas aí que mora o perigo: existem mais de 200 doenças reumáticas, algumas delas bem distintas entre si! Dessa maneira, é importante o paciente saber exatamente qual a sua doença reumática, para entender melhor os sintomas e tratamentos e o que esperar da evolução do seu quadro.
A partir daí vamos desconstruir esse segundo mito: as doenças reumáticas não são exclusivas de idosos, inclusive algumas são mais comuns em jovens ou até em crianças! Os sintomas do Lúpus, por exemplo, iniciam-se mais comumente em mulheres jovens de idade entre 16 e 30 anos!
O que um reumatologista faz?
O reumatologista trata doenças que afetam as articulações, ligamentos, ossos, músculos, tendões além de doenças autoimunes (quando células do sistema imune “atacam” estruturas do próprio corpo). É importante que alguém procure um reumatologista sempre que apresentar: dor persistente em alguma parte dos músculos, tendões ou articulações; dor lombar ou cervical persistente; aftas orais/genitais /anais de repetição; olhos vermelhos ou secos ou quando o oftalmologista percebe uma inflamação (a uveíte); boca persistentemente seca; dormências nas mãos e pés; alteração de coloração e temperatura nos dedos; lesões na pele, em especial em região exposta ao sol e quando vem acompanhada de dores articulares.
Quais as principais doenças reumatológicas?
Temos alguns grandes grupos de doenças na reumatologia:
– As síndromes dolorosas crônicas, sendo a principal representante da fibromialgia.
– As doenças em que há degradação aumentada da cartilagem, a famosa “artrose”, sendo o nome mais correto osteoartrite. Pode acometer mãos, coluna, joelhos, mais comumente, além de outras localizações.
– As doenças em que há alteração no sistema imunológico, resultando em inflamação de diversos tecidos e órgãos, como: lúpus, artrite reumatoide, espondilite anquilosante, esclerose sistêmica, síndrome de Sjögren, vasculites, dentre outras.
– As doenças por deposição de cristais, sendo a mais famosa a gota.
– A osteoporose, que é uma doença em que há redução da resistência óssea, predispondo a risco de fratura.
Todos os pacientes devem realizar atividades físicas?
Afirmações usando as palavras “tudo” e “nada” na medicina são complicadas! Mas sim, é recomendada a prática regular de exercícios físicos para a maior parte dos pacientes com doenças reumáticas. É amplamente conhecido pela população a importância dos exercícios físicos para a saúde do coração . Isso é ainda mais importante nas doenças inflamatórias crônicas (artrite reumatoide e lúpus, por exemplo) pelo fato da inflamação sistêmica contribuir para a formação mais acelerada de “placas de gordura” (chamadas de placas de ateroma) nas artérias, aumentando o risco de infarto e AVC. Além disso, a inflamação sistêmica predispõe à perda de massa muscular e até mesmo massa óssea, aumentando risco de osteoporose e fraturas. Ainda, algumas medicações usadas na reumatologia podem acelerar ainda mais essas perdas, como acontece com o uso prolongado de corticoides. Pensando também do ponto de vista biomecânico, músculos saudáveis são importantes para o bom funcionamento das articulações, reduzindo o impacto sobre elas e assim diminuindo o risco de tendinites e bursites, por exemplo.
Fonte: Uai – Saúde Plena.