A articulação temporomandibular (ATM) é a articulação que, ligando o maxilar ao crânio, confere mobilidade ao maxilar e, em conjunto com os músculos próprios da face a ela ligados, possibilita as funções da mastigação e da fala. Ao mesmo tempo, está intimamente relacionada às estruturas posteriores do polo cefálico e da coluna cervical, de forma que alterações do aparelho mastigatório podem causar alterações posturais e vice versa.
Possui uma estrutura fibrocartilaginosa complexa que possibilita, em condições normais, movimentos especializados (anteroposterioes, laterais, de protrusão e retrusão) como nenhuma outra articulação. Dessa forma, alterações de sua estrutura ou função implicam em posicionamento mandibular alterado e consequente disfunção da fala, da mastigação, da audição e da sustentação da coluna cervical.
A disfunção da articulação temporomandibular (DTM) ocorre quando uma ou mais estruturas que fazem parte do complexo da articulação temporo mandibular sofre dano (anatômico ou funcional), ocasionando mau funcionamento e dor, sob a denominação de dor músculo-esquelética crônica da face. Pode não ser facilmente identificada devido à etiologia multifatorial e a diversidade de sintomas iniciais. Distúrbios da oclusão, dores miofasciais e problemas emocionais certamente contribuem para a fisiopatologia da DTM.Didaticamente, diz-se que as disfunções podem se dividir em três grupos: musculares, articulares e de deslocamento de disco. As disfunções musculares que cursam com dor miofascial são as mais comumente encontradas.
É caracterizada principalmente pela presença de dor, estalos na articulação e limitação de função, quer seja mastigação dolorosa, dificuldade para abrir a boca, sorrir e bocejar. Os pacientes queixam com frequência de fadiga muscular, dores na face, na ATM propriamente dita e nos músculos mastigatórios, dores na cabeça localizada nas têmporas e no ouvido e limitação e/ou desvios dos movimentos mandibulares. Muitos referem enxaqueca. Alguns pacientes evoluem com irritabilidade, falta de apetite e dificuldade de conciliar o sono. Em geral, o início dos sintomas está relacionado a hábitos como bruxismo, morder objetos estranhos, roer unhas, mastigação excessiva de chicletes, postura inadequada da cabeça durante o repouso, uso de fones de ouvido, além de estresse, depressão e ansiedade.
Faz-se necessário verificar a presença de comorbidades do segmento cefálico e axial, como cefaleias primárias, doenças reumáticas e da coluna vertebral, doenças neurológicas e outras manifestações de doenças crônicas. Portanto, é necessário estabelecer um bom diagnóstico diferencial, seguindo um criterioso roteiro de investigação da dor, pelo exame físico e por exames complementares.
Por ser uma patologia de causa multifatorial, diversas modalidades de tratamento são propostas e utilizadas. Contudo, as terapias mais recomendadas são as não invasivas, as quais devem ser a primeira opção de escolha no tratamento das disfunções temporomandibulares.
Existe um leque muito amplo de técnicas empregadas para o tratamento, e em geral a escolha é feita norteada pela etiologia e pelo sintoma principal. Já foram usadas toxina botulínica, terapia cognitivo-comportamental, hipnose, laser, mudanças oclusais (ortodontia, ajuste oclusal, ortopedia facial, próteses, cirurgia ortognática), fisioterapia local, TENS, auto-massagem, anti-inflamatórios, analgesia com aplicação de anestésico nos pontos gatilhos, placa inter-oclusal e a acupuntura. Observe-se que a colaboração do paciente é fundamental para todos os tipos de tratamento oferecido, pois implicam em constância, observação para correção de hábitos, adesão aos medicamentos e ao método proposto.
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Estudos controlados e artigos de revisão demonstram que o tratamento das DTMs com uso da acupuntura vem apresentando resultados melhores e mais duradouros na redução e remissão da dor quando comparados por exemplo, ao uso de placa oclusal
A acupuntura tem se mostrado tão eficiente no controle de dores faciais quanto as terapias ocidentais convencionais. É uma terapia considerada útil, de baixo custo e que proporciona uma melhor qualidade de vida aos pacientes tratados com a técnica. Tem a vantagem de, ao mesmo tempo em que alivia a dor, proporciona ao paciente a calma e tranquilidade necessárias para identificar os fatores que possam estar desencadeando as crises.
O tratamento é feito com sessões inicialmente a cada três ou quatro dias, utilizando pontos locais e à distância, de acordo com o diagnóstico da Medicina Tradicional Chinesa. Em geral, o paciente refere melhora da dor logo após a primeira sessão, e a melhora é mais evidente principalmente quando há limitação de movimentos e dor à mastigação.
Referências
- Ernst E, White AR. Acupuncture as a treatment for temporomandibular joint dysfunction: a systematic review of randomized trials. Arch Otolaryngol Head Neck Surg. 1999; 125: 269-72.
- Branco, C. A. et al. Acupuntura como tratamento complementar nas disfunções temporomandibulares: revisão da literatura. Revista de Odontologia da UNESP. 2005; 34 (1): 11-6