Rematologista explica sobre síndrome rara, as formas de diagnosticá-la, opções de tratamento e atitudes que os pacientes podem ter para minimizar seus sintomas
Durante o Webinário de Conscientização das Artrites, a Dra. Juliana D. Agostino Gennari, reumatologista da Santa Casa de São Paulo, membro da Comissão da Síndrome de Sjögren da Sociedade Brasileira de Reumatologia, se reuniu virtualmente aos representantes das associações de pacientes Eduardo Tenório do Superando Lúpus, Eni Maria, do Grupasp, Ana Lúcia Paduello, do GruparEncontrAR e Priscila Torres, do Grupo EncontrAR, com o objetivo de esclarecer sobre essa síndrome tão pouco conhecida.
A Síndrome de Sjögren é definida como uma doença autoimune, ou seja, as células de defesa do organismo agem contra alguma célula normal do corpo. É uma doença crônica, por isso não há cura, embora seja possível controlá-la. Também é uma doença sistêmica, afetando diversas regiões do corpo. Ela se caracteriza principalmente pelos sintomas de olho seco e boca seca. Mas também possui como sintomas importantes a fadiga e dor nas articulações que acometem mais de 80% dos pacientes. E embora menos frequente, a Síndrome de Sjögren também pode afetar os rins, pulmões, vasos, fígado, pâncreas e cérebro.
A doença foi descrita de forma mais completa pela primeira vez em 1933, pelo oftalmologista sueco, Henrick Sjögren, de onde foi retirado o nome da síndrome. Ele descreveu a síndrome através de um estudo com 19 mulheres entre 29 e 72 anos, que apresentavam queixam similares a Artrite Reumatóide, mas tinham também sintomas de xerostomia (boca seca) e xeroftalmia (olho seco).
“Ela é uma doença pouco conhecida pela população geral e que tem como característica marcante, os sintomas de secura, principalmente nos olhos e na boca. Então para a gente falar sobre a Síndrome de Sjögren a gente precisa primeiro entender e saber quais são as possíveis causas de secura nos olhos e na boca. É só a Síndrome de Sjögren que pode causar esses sintomas? Na verdade não. As queixas e causas de secura elas são múltiplas e isso também contribui muitas vezes para dificultar o diagnóstico do porque esse paciente sente o sintoma de olho seco e boca seca. Isso exige do médico que está vendo esse paciente uma investigação, tirar uma história do paciente de uma forma clínica bem apurada para se chegar a um possível motivo dessa queixa do paciente.E lembrar também que sintomas de secura são muito comuns na prática clínica diária”, iniciou a especialista.
A reumatologista elencou possíveis causas de secura além da Síndrome de Sjödren. São elas: Medicamentos, pois alguns podem causar sintoma de secura como os para hipertensão arterial, depressão, alergias e resfriados; Infecções também podem causar sintoma de secura, como a hepatite C; Pacientes com diabetes mais descompensado; Doenças próprias dos olhos e da boca; O avanço da idade; Pacientes submetidos a radioterapia em região de cabeça ou pescoço.
A médica ressaltou ainda que os pacientes com essa patologia tem maior probabilidade de desenvolver linfomas. Por isso é extremamente importante o acompanhamento médico regular para monitorar através de exames clínicos e laboratoriais o desenvolvimento de possíveis linfomas, além de controlar a atividade da doença.
Síndrome de Sjögren, suas causas e sintomas
A patologia ainda tem causas pouco conhecidas, mas já se sabe que existe uma predisposição genética. E nos pacientes com essa predisposição, os fatores ambientais como algumas infecções virais e alterações hormonais, como a queda do estrogênio na fase da menopausa, podem desencadear essa doença. A soma desses fatores provocam uma alteração no sistema imunológico do paciente que começa a produzir anticorpos, gerando um processo inflamatório em vários órgãos. Mas a Síndrome de Sjörgren acomete principalmente as glândulas lacrimais e salivares, comprometendo o funcionamento normal dessas glândulas. Gerando com isso os sintomas de secura nos olhos e na boca, explicou a especialista.
Esses sintomas de olho seco podem ocorrer em ambos os olhos ou apenas em um. O paciente tem uma sensação de areia nos olhos, pode ter dor, vermelhidão, coceira, fotossensibilidade (sensibilidade à luz) e uma sensação de corpo estranho nos olhos. Já a manifestação de boca seca têm como características uma possível dificuldade para mastigar e engolir alimentos sólidos e secos, o paciente pode sentir necessidade de ingerir líquidos para facilitar a deglutição, ter perdas dentárias e cáries, halitose e alterações do paladar.
A especialista destacou também que até 30% dos pacientes com Síndrome de Sjörgren podem ter aumento fixo e indolor de parótidas e glândulas salivares, dando uma aparência inchada ao paciente, similar a uma caxumba. Ainda sobre os sintomas, a médica explicou que também podem surgir secura na pele, nariz, garganta e na vagina (podendo causar dor durante o sexo).
A Dra. Juliana também afirmou que a doença é pouco frequente, porém comum. Estudos mostram que 0,05% e 5% da população pode ser acometida, mas ela costuma ser subdiagnosticada devido ao fato da patologia ser pouco conhecida pela população geral e os seus principais sintomas serem tão comuns. A Síndrome de Sjörden acomete predominantemente o sexo feminino, em uma relação de 9 mulheres para cada homem. A faixa etária entre 40 e 60 anos é a que mais apresenta a doença, embora ela possa ocorrer em qualquer idade.
E a patologia pode ocorrer de forma isolada, mas também se apresentar em conjunto com outras doenças reumáticas autoimunes. As associações mais frequentes são com o Lúpus e a Artrite Reumatoide. Quando ocorre essa associação com outras doenças a síndrome passa a ser chamada de Síndrome de Sjögren Secundária.
Diagnóstico e tratamento
O diagnóstico da doença demora em média de 6 a 10 anos, e segundo a médica, isso acontece devido à falta de especificidades das manifestações clínicas, pois os sintomas dessa doença são comuns em outras diversas situações. Para realizar o diagnóstico o reumatologista leva em consideração os sintomas, exames físicos, laboratoriais, exames de imagem (especialmente o ultrassom das glândulas parótidas e submandibulares, que são as glândulas salivares) e quando necessário também é solicitado a biópsia de glândulas salivares. Através dessa biópsia é possível avaliar a intensidade da inflamação da glândula. Também são feitos testes para avaliar a quantidade e a qualidade da lágrima, assim com a taxa de fluxo salivar. Para confirmar o diagnóstico é preciso que haja a presença do anticorpo anti-RO/anti-SSA no exame de sangue.
Quanto ao tratamento, a Dra. Juliana fez questão de frisar que ele precisa ser multidisciplinar, envolvendo reumatologistas, oftalmologistas, otorrinolaringologistas, neurologistas, ginecologistas e hematologistas. E dependendo do acometimento do paciente com Síndrome de Sjögren outros profissionais também se fazem importantes, como dentistas, educadores, nutricionistas, fisioterapeutas, e terapeutas ocupacionais. A reumatologista destacou que os objetivos no tratamento são aliviar os sintomas de síndrome seca, melhorar a qualidade de vida e prevenir ou retardar a progressão da doença. Evitando o acometimento de outros órgãos.
A médica ressaltou a importância da orientação dos pacientes logo ao início do tratamento a respeito da doença, tirando dúvidas e explicando todos os aspectos envolvidos. Como sintomas, tipos de tratamento, resultados esperados e as mudanças no estilo de vida que podem ser necessárias para o controle da doença.
A reumatologista apresentou ainda uma lista de atitudes que devem ser evitadas pelos pacientes com Síndrome de Sjörgren para evitar a secura. São elas: Evitar ambientes com ar-condicionado; Não fumar; Locais com muito vento; Leitura muito prolongada; Uso de computador por longos períodos; Banhos muito quentes; Ingestão de café e álcool.
Ela também orientou quanto à atitudes benéficas para diminuir a secura nos olhos. Como:
- Usar óculos grandes e rente aos olhos;
- Manter-se hidratado;
- Higienização frequente da boca;
- Se possível, após a avaliação médica, evitar medicamentos que piorem o ressecamento;
- Umidificar o ambiente;
- Lembrar de piscar;
- Colocar telas de computador e televisão na altura dos olhos;
- Acompanhamento regular com o oftalmologista.
- Caso essas medidas não auxiliem, é possível utilizar lágrimas artificiais e reposição lacrimal, de acordo com orientação médica.
- Em casos mais graves pode-se realizar a oclusão dos pontos lacrimais.
- E uma dieta rica em ômega 3 também pode auxiliar, mas a profissional destaca que é o ômega 3 derivado do peixe.
- Além de evitar ingestão de gorduras, carboidratos e carne vermelha em excesso.
Quanto à secura na boca, a profissional também deu dicas importantes e afirmou que a saliva é uma proteção contra cáries. Além de ter ressaltado que é fundamental ter um acompanhamento regular com o dentista, realizando toda a rotina de higienização da boca, com escovação dos dentes, bochechas e língua. Assim como usar o fio dental. Também orientou ao uso de pastas de dente com Xylitol, pois essa substância ajuda a diminuir a secura. Beber água com frequência e em pequenas quantidades para manter a região umidificada.
Como a fadiga é um dos sintomas mais significativos da doença (após a secura ocular e da boca) a médica indicou a realização de atividades físicas, pois elas trazem uma série de benefícios. E, pelo menos no início, ela acredita que as caminhadas sejam as atividades mais indicadas, por pelo menos 3 vezes na semana, pois trata-se de um exercício seguro, que aumenta a tolerabilidade ao exercício e traz flexibilidade ao paciente. A Dra. Juliana fez questão de ressaltar que antes de qualquer atividade física o paciente precisa conversar com o médico a respeito.
Sobre o tratamento, a especialista disse que, no momento, existem apenas medicamentos ditos sintomáticos com eficácia comprovada para a patologia. Eles apenas controlam os sintomas. São eles: Anti-inflamatórios; Analgésicos para controle de artralgias e artrite; Substitutos de saliva e lágrima; Pilocarpina; Acetilcisteína; Etc.;
“Atualmente novos tratamentos e novos medicamentos estão sendo estudados e espera-se que em poucos anos nós tenhamos mais opções eficazes, não apenas para o controle dos sintomas. Mas também para controlar os mecanismos imunológicos dessa doença”, informou a reumatologista.