Em meio à crise sanitária mundial, os pacientes reumáticos foram colocados no centro das discussões por causa das controvérsias sobre o uso de medicamentos como a hidroxicloroquina, prescrita em alguns quadros de doenças reumatológicas, no combate à Covid-19. Pois o impacto da pandemia nessa população foi um dos principais destaques do congresso anual da Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR), realizado em novembro com a participação virtual de cerca de 2 mil médicos.
Os profissionais debateram esses e outros temas em mais de 300 palestras, conferências e simpósios. Afinal, são mais de 120 doenças reumáticas que atingem homens e mulheres em todas as faixas etárias, de crianças a idosos.
Durante o congresso, foram divulgadas três pesquisas conduzidas este ano com apoio da SBR que analisaram aspectos diferentes da relação dos pacientes reumáticos com a Covid-19: o impacto da pandemia sobre o atendimento médico, a evolução da infecção pelo novo coronavírus em pessoas com doenças reumáticas autoimunes e o possível e controverso efeito protetor da hidroxicloroquina contra a Covid-19 em pessoas imunodeprimidas que usam o medicamento há anos.
A pesquisa ConVida ouviu 1 793 pacientes em junho e revelou que, por medo da pandemia, 32% dos indivíduos com doenças reumáticas não buscaram ajuda médica, mesmo 29% tendo apresentado piora dos sintomas. Do total de entrevistados, 17% pararam de tomar pelo menos um medicamento, 35% por conta própria. O motivo alegado estava relacionado ao medo de ter um desfecho desfavorável com a Covid-19.
O estudo Mário Pinotti — nome dado em homenagem a um médico brasileiro que estudou o uso de cloroquina contra a malária no século 20 — concluiu que a hidroxicloquina não previne a infecção pelo vírus Sars-CoV-2 em pacientes com doenças reumáticas imunomediadas e já fazem uso do medicamento há anos. No trabalho, foram ouvidas 9 589 pessoas de 97 cidades brasileiras, entre março e maio.
Do total, 5 166 (53,9%) eram pacientes que tomavam hidroxicloroquina e 4 423 (46,1%) eram contactantes. Entre os participantes, 169 pessoas que faziam uso crônico do medicamento tiveram Covid-19, o equivalente a 4% do universo pesquisado. Entre os contactantes, a proporção de infectados foi de 3,25%, o que representou 124 pessoas.
A SBR apoiou o maior estudo já realizado em um único país para avaliar a evolução da Covid-19 em pessoas com doenças reumáticas imunomediadas. O estudo ReumaCoV incluiu 43 centros brasileiros e acompanhou cerca de 1 200 pacientes. Numa primeira análise, de oito semanas, com 338 pacientes, descobrimos que 48% deles precisaram de atendimento hospitalar, dos quais 68,7% foram internados.
Com os novos desdobramentos, nós, reumatologistas, e os pacientes reumáticos temos imensos desafios pela frente. O importante é manter a nossa conversa aberta, encorajar a continuidade do tratamento e, em caso de dúvida ou receio, procurar o médico.
Fonte: Veja Saúde.
Por Ricardo Machado Xavier é professor titular da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e presidente da Sociedade Brasileira de Reumatologia