O Conselho Nacional de Saúde (CNS) alerta sobre os riscos do uso da Cloroquina e Hidroxicloroquina no tratamento da Covid-19. O Brasil e o mundo estão vivendo uma grave crise sanitária. Estamos diante de um inimigo novo e invisível, que está impondo ao povo brasileiro a convivência com casos alarmantes de mortes e de dificuldades concretas de atendimento no sistema de Saúde. Neste cenário, é compreensível, e até natural, que as pessoas busquem se apegar a possibilidade de uso de medicamentos que possam diminuir este sofrimento.
Ao mesmo tempo, a ciência tem corrido contra o tempo para desenvolver uma vacina e medicamentos que sejam efetivos e seguros na prevenção e tratamento da doença. Mas, até o momento, não existem evidências científicas robustas que possibilitem a indicação de uma terapia farmacológica específica.
Em meio a estas questões tão complexas, o Ministério da Saúde publicou, na última quarta (20/05), as “Orientações do Ministério da Saúde para tratamento medicamentoso precoce de pacientes com diagnóstico da Covid-19”, que autorizam o uso de Cloroquina/Hidroxicloroquina para tratar sintomas leves da doença e amplia seu uso para todos os pacientes infectados.
O CNS é contra este documento do Ministério da Saúde, considerando os riscos do uso da Cloroquina e da Hidroxicloroquina no tratamento da Covid-19, tais como:
- O documento do Ministério da Saúde carece de respaldo técnico-científico para a indicação da Cloroquina e da Hidroxicloroquina na prevenção ou nos estágios iniciais da doença.
- Ainda existem lacunas de informação e conhecimento sobre o comportamento da Covid-19, tais como: as taxas de letalidade, potencial de transmissão, tratamento, existência de outros efeitos ou sequelas no organismo dos que foram infectados.
- Até o momento, os resultados de pesquisas têm demonstrado que a Cloroquina e a Hidoxicloroquina podem não ser eficazes para tratar pacientes de Covid-19, incluindo pacientes com sintomas leves. Na verdade, as pesquisas vêm demonstrando o surgimento de graves e fatais efeitos indesejáveis, incluindo problemas cardíacos. Aqui estamos nos referindo a publicações em revistas renomadas como a The New England Journal of Medicine, JAMA, The BMJ 1 e The BMJ 2.
- São necessários novos estudos robustos (randomizados, controlados e com um grande número de pacientes) para uma conclusão sobre o balanço favorável para a eficácia do tratamento e o potencial de riscos decorrentes do uso de qualquer medicamento e isso inclui a Cloroquina e a Hidroxicloroquina.
- Segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), é possível que um médico queira prescrever um medicamento para um determinado paciente, mesmo que este medicamento não tenha sido aprovado para este uso. Porém, este uso deve ser analisado caso a caso, baseado em conhecimento e experiências clínicas. Quando essa prática é feita para pacientes graves e em ambiente hospitalar, é possível o monitoramento do paciente durante 24 horas por uma equipe de Saúde no caso de aparecerem efeitos colaterais.
- A avaliação dos pacientes para a indicação desses medicamentos requer a realização de anamnese, exame físico e exames complementares impactando ainda mais o sistema de Saúde, principalmente as unidades básicas de saúde e Upas. Muitas dessas unidades não possuem os equipamentos necessários para avaliar se um paciente pode ou não usar a Cloroquina ou a Hidroxicloroquina por causa do efeito colateral relacionado à arritmia cardíaca, por exemplo.
- O uso desses medicamentos como prevenção e nos casos leves da Covid-19 em ambiente ambulatorial, ou seja, quando o paciente leva o medicamento e se trata na sua casa, pode levar a situações onde, caso desenvolva um efeito colateral grave, o paciente não tenha tempo de ser devidamente atendido, podendo evoluir para um óbito que seria evitado sem o uso do medicamento.
- A possibilidade do desenvolvimento de efeitos colaterais graves, decorrentes do uso de Cloroquina ou de Hidroxicloroquina em pacientes leves, pode exigir uma internação que poderia não acontecer sem o uso desses medicamentos, acarretando a necessidade de mais leitos hospitalares.
- Mesmo não tendo seu efeito comprovado na prevenção ou tratamento da Covid-19, e com potencial de desencadear efeitos colaterais graves, o Ministério da Saúde, além de orientar o uso da Cloroquina e Hidroxicloroquina como medida de enfrentamento da pandemia, ainda transfere a pacientes e seus familiares, que se encontram numa situação de grande vulnerabilidade, a responsabilidade sobre a decisão de uso ou não desses medicamentos e suas consequências, por meio do “Termo de Ciência e Consentimento Hidroxicloroquina/Cloroquina em associação com Azitromicina para Covid-19”, apresentado no documento de orientações do Ministério da Saúde.
Fonte: Conselho Nacional da Saúde