Temos como lugar seguro o que chamamos de zona de conforto. Esse lugar estático onde dizem que habitam os fracos que buscam resquícios de alívio. E os influenciadores motivacionais vibram em dizer imperativamente: “Saia da sua zona de conforto e alcance o sucesso!”, como se fosse algo simples em que se faz após uma boa xícara de café bem forte. Junto com a onda de “life coach” e de profissionais de saúde em estilo de vida e ciências comportamentais, há também o grito solitário de quem está aí pra dizer que não há zona de conforto em saúde.
Afirmar que alguém não emagrece porque não quer sair da zona de conforto é simplificar uma série de fatores complexos. Dizer que falta força de vontade ao diabético, que o indivíduo com dor crônica não melhora porque não quer trabalhar ou que o depressivo está com preguiça e fazendo “corpo mole” é desumanizar qualquer olhar em direção da saúde.
Não há zona de conforto em saúde pois não há conforto no adoecimento. O lugar do adoecimento é apertado, desconfortável e cheio de julgamentos de quem fala que é fácil sair. O que ocorre é que, muitas vezes, ignoramos os sinais do nosso corpo dizendo que não está sendo nada bom para a própria sobrevida ou então simplesmente não conseguimos sair do fundo do poço da doença. A zona de conforto em saúde é um lugar escuro, escorregadio e solitário. Eventualmente precisamos que uma equipe inteira de profissionais de saúde joguem uma corda para sair de lá, eventualmente precisamos de escalar aos poucos em direção a saída, com uma mudança de cada vez.
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Nada cresce na zona de (des)conforto. O florescimento ocorre na mudança, mas o caminho nem sempre é fértil de primeira. A ilusão do lugar seguro e o medo do desconhecido nos fazem continuar nos processos que geram prejuízo ao organismo, quando entendemos que em saúde existem somente incertezas e flutuações no estado geral. Somente com mudanças de hábito de forma gradual e um esforço consciente em boas escolhas encontramos finalmente conforto na sensação de bem estar do quadro saudável, mantendo em vigília e ternura consigo mesmo no processo.