O Outubro Rosa é uma campanha fundamental para aumentar a conscientização sobre a prevenção do câncer de mama. Entretanto, há outra preocupação que se torna cada vez mais urgente: as doenças cardiovasculares, que lideram como a principal causa de morte entre as mulheres, tanto no Brasil quanto no mundo.
Nos últimos anos, as cardiopatias, como infartos do miocárdio, têm crescido entre as brasileiras, especialmente entre as mais jovens. Segundo a Sociedade Brasileira de Cardiologia, há um aumento significativo de casos entre mulheres de 15 a 49 anos. Esse cenário é particularmente alarmante quando consideramos os fatores de risco específicos que afetam as mulheres.
Entre esses fatores, o estresse crônico, a ansiedade e a depressão são condições comuns, muitas vezes associadas à dupla jornada que elas enfrentam. Além das responsabilidades profissionais, a maioria das mulheres também arca com atividades domésticas e cuidados familiares. Um levantamento recente do Infojobs revelou que 83% das mulheres no Brasil enfrentam essa sobrecarga. O acúmulo de responsabilidades e a falta de tempo para autocuidado contribuem diretamente para o risco cardiovascular.
Embora técnicas de relaxamento, prática regular de exercícios físicos e uma boa rotina de sono sejam estratégias reconhecidas para mitigar esses riscos, muitas mulheres têm dificuldade em encontrar tempo para essas atividades. Nessa perspectiva, uma rede de apoio familiar e a divisão justa das tarefas diárias são fundamentais para que elas consigam cuidar melhor de si.
Outro ponto essencial é a atenção aos sintomas das doenças cardíacas, que podem se manifestar de maneira distinta nas mulheres. Diferente dos homens, que costumam sentir dores intensas no peito durante um infarto, as mulheres podem apresentar sinais mais sutis e menos evidentes, como fadiga persistente, falta de ar, náuseas, dores nas costas, mandíbula ou braços. Após a menopausa, o risco de problemas cardíacos aumenta, pois a queda nos níveis de estrogênio — hormônio que oferece proteção ao sistema cardiovascular — deixa as mulheres mais vulneráveis a essas condições. Manter consultas regulares com um cardiologista é uma medida preventiva crucial nessa fase.
No aspecto nutricional, diversos estudos mostram que uma dieta rica em antioxidantes, como frutas vermelhas, vegetais de folhas verdes e nozes, tem um papel protetor na saúde cardiovascular das mulheres. Esses alimentos ajudam a reduzir inflamações e melhoram a saúde dos vasos sanguíneos, contribuindo para a prevenção de doenças cardíacas.
No entanto, é importante lembrar que a saúde do coração não depende apenas de fatores físicos. Promover um equilíbrio entre o bem-estar físico e mental é fundamental para reduzir os riscos de complicações cardiovasculares. Em outubro, e durante todo o ano, é essencial que as mulheres reconheçam a importância de cuidar de seus corações, assim como de receber o apoio de todos ao seu redor para isso.
* Dr. Ricardo Ferreira é cardiologista, especialista em Estimulação Cardíaca Artificial e Arritmia Clínica, com especialização em eletrofisiologia clínica e invasiva. Possui doutorado pela Universidade de São Paulo (USP) e é fundador do Centro Cardiológico.