A modelo e estudante de Direito Camila Zanini convive com dores o tempo todo. Matogrosense de Rondonópolis, ela foi diagnosticada com psoríase aos 10 anos depois de notar uma escamação que ia do couro cabeludo até a testa. Hoje, aos 24 anos, ela luta contra a artrite psoriásica: a doença não ataca somente sua pele, chegou aos ossos.
Isso dificulta atividades do dia a dia, como dirigir e cuidar de suas filhas, Rebeca e Ariela, de 3 e 6 anos, respectivamente. Segundo a entidade americana National Psoriasis Foundation, 30% dos pacientes com psoríase desenvolvem a artrite e geralmente os sintomas aparecem 10 anos depois do diagnóstico inicial.
Além da questão na pele, Camila enfrentou a anorexia, que desenvolveu devido às pressões para emagrecer por ser modelo. Ele divide com Universa sua história de superação e conta como encara algo sem cura, que afeta seu cotidiano, com cabeça erguida.
“Quando eu tinha 10 anos, apareceu uma espécie de caspa no meu cabelo. Era uma descamação que ia do couro cabeludo até um pedaço da testa. Fui a um dermatologista que pediu para fazer uma biópsia e fui diagnosticada com psoríase. É uma doença na pele, que pode tomar o corpo todo.
Para melhorar, passei a tomar corticoides e usar cremes. Só que ela tem fundo emocional e nessa mesma época a ansiedade por causa de uma apresentação na escola fez as manchas aparecerem no braço: fiquei toda vermelha. Passei a fazer terapia, já que seria sempre assim, algo que vai e volta.
Ao longo do tempo, percebi que sempre que algo me afetava emocionalmente, a vermelhidão se espalhava. Aos 15 anos, tive meu primeiro namorado e foi um relacionamento turbulento. Assim, a doença atacou pernas, costas, testa, nariz. De lá para cá, só espalhou mais, com alguns momentos de melhora. Tenho até embaixo das unhas, que são todas furadinhas.
Na adolescência, às vezes minha pele ficava tão grossa que sangrava. Moro em Rondonópolis, no Mato Grosso, e aqui faz sempre 40, 45 graus. Sempre andava de calça jeans e blusa de inverno. Preferia passar calor a ter que explicar o que era aquilo.
Aos 17 anos, fiquei grávida da minha primeira filha. Só descobri aos seis meses, pois tinha sangramentos irregulares. Minha mãe que notou que meu corpo estava diferente e me pediu para fazer um exame. A psoríase piorou muito pois não podia usar medicação.
Antes de ser mãe comecei a trabalhar como modelo na minha cidade para um fotógrafo que clicava para lojas, campanhas de TV, outdoors. Quando minha filha fez seis meses, um cliente pediu para eu perder cinco quilos. Usava manequim 38, mas o ideal era 36. Estava com 1,84 metro de altura e pesava 77 quilos. Aquilo ficou na minha cabeça e perdi a vontade de comer. Desenvolvi anorexia e passei a pesar 54 kg. Aí, comecei outro tratamento, fui ao psiquiatra, passei a tomar remédios e fazer terapia.
Melhorei, ganhei peso e tive uma recaída alguns anos depois. Em 2016, eu estava bem magra de novo, fui à uma agência de modelos em São Paulo e me disseram ‘seu quadril está largo e você tem 15 dias para se livrar disso aí’. Foi muito cruel.
Aos 21, engravidei de novo de um outro relacionamento. Na segunda gravidez passei a sentir muita dor no quadril, mas não era pela gestação, pois não melhorou após o nascimento. Um dia meu joelho travou e não consegui me mexer. No médico, descobri que estava com artrite psoriásica.
A psoríase atacou meus ossos. Hoje, faço uso de imunossupressor para atacar as células doentes. Eu tomo oito comprimidos uma vez por semana, como se fosse uma quimioterapia, passo muito mal, às vezes tenho hipotermia, não consigo cuidar direito das minhas filhas nesses períodos.
Continuo seguindo a minha rotina, entrei na faculdade de Direito e estou estudando para entrar em Medicina, meu grande sonho. Quero ser médica legista. Continuo fazendo alguns trabalhos como modelo, mas sinto que aqui não há uma aceitação pela diferença.
Lá fora, a gente vê modelos com vitiligo e albinos se destacando, aqui a realidade é outra. Meu sonho é poder tirar fotos e não ver minhas machas sumirem no photoshop. Hoje, uso blusa curtinha, cropped. Cheguei em uma fase em que me aceito. Minhas manchas fazem parte de quem eu sou.”
Fonte: Universa Uol