Portadores de doenças auto-imunes, como lúpus e síndrome de Sjögren, peregrinam de farmácia em farmácia de Campo Grande já com a certeza do “não” para a pergunta: “tem cloroquina?”. Mesmo com estudos apontando a ineficácia no combate à covid-19, o medicamento segue como item raro desde a deflagração da pandemia, no fim de março, após procura desenfreada provocada pela notícia de que salvaria pacientes do novo coronavírus.
Hoje, algumas farmácias de manipulação já aceitam pedidos para fabricar cloroquina. O preço chega a R$ 340 por 60 cápsulas. Inflacionada pela emergência em saúde, uma caixa com 30 comprimidos de Reuquinol, cujo princípio ativo é a hidroxicloroquina, custa R$ 80.
Portadora de lúpus há nove anos, a jornalista Luane Morais, 28, chegou a ficar 25 dias sem o medicamento, que ajuda no combate às dores e aumenta a imunidade. Ela conseguiu uma caixa do remédio genérico, mas teve reação alérgica e precisou suspender o uso.
“Fiquei com o rosto inchado, olhos inchados, dor de estômago, ânsia de vômito”, descreve.
A doula Tatiana Marinho, 40, chegou a procurar pela medicação em farmácias no interior do Estado. Não encontrou. Ela é portadora da síndrome de Sjörgren, que causa secura nas mucosas e inflamação nas articulações. O Reuquinol ajuda a aliviar as dores.
“Mandar manipular uma vez, tudo bem. Mas até quando?”, questiona Tatiana, que também já conta nos dedos os dias que faltam para acabar seu estoque.
“Tem um monte de gente que não está doente com estoque em casa. Na semana que descobri [que cloroquina e hidroxicloroquina estavam em falta], farmacêutico me disse que vendeu 30 caixas para uma mesma pessoa”, lamenta.
Controle – A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) enquadrou a cloroquina e a hidroxicloroquina como medicamentos de controle especial só no dia 20 de março. Os estoques das farmácias se esgotaram pouco antes, quando a venda não dependia de receita.
Farmacêutica da Rede Máster, drogaria localizada na Avenida Manoel da Costa Lima, Veranice Lescano assegura que “agora não tem nas distribuidoras e nem previsão para que seja disponibilizada” a medicação.
Andressa Malhada, farmacêutica da Pague Menos da Avenida Eduardo Elias Zahran, relata que a procura pela cloroquina aumentou dez vezes. “Tanto que o estoque zerou. Não tinha estoque grande, porque não era muito procurada. O fornecedor não tem e não tem previsão de entrega, porque não tem matéria prima”, ressalta.
Controversa – A cloroquina foi o primeiro medicamento a ser cogitado para tratamento e cura de casos de novo coronavírus. Embora o uso tenha sido incentivado até pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) em pronunciamentos oficiais, a eficácia jamais foi efetivamente comprovada. A própria OMS (Organização Mundial de Saúde) suspendeu testes com o remédio.
Na contramão, o ministério da Saúde decidiu ampliar a orientação para administração da cloroquina ou da hidroxicloroquina para gestantes, crianças e adolescentes, em casos leves ou graves de covid-19. A prescrição do medicamento fica a critério do médico e depende também do consentimento do paciente.
Conforme painel do ministério da Saúde, o governo federal já distribuiu 4,3 milhões comprimidos de cloroquina no País. Mato Grosso do Sul recebeu 15 mil.
Após pesquisa da Universidade de Oxford, na Inglaterra, o corticóide dexametasona passou a ser ventilado como eficiente no tratamento de casos mais graves da covid-19. O medicamento reduziu a mortalidade em pacientes sob respiração mecânica.
O uso de dexametasona sem necessidade ou indicação médica pode provocar o efeito contrário e dificultar o combate ao vírus no organismo. A substância não cura da doença, mas sim, combate a reação inflamatória provocada por ela.
Fonte: Campo Grande News.