Responsável pelo ambulatório de SAF do HC, Dra. Danieli Castro de Oliveira esclarece dúvidas dos participantes
A segunda palestra do III Seminário sobre Lúpus, realizado na Câmara Municipal de São Paulo, no dia 28/11, abordou o tema Lúpus Eritematoso Sistêmico, ministrada pela reumatologista e responsável pelo ambulatório SAF (Síndrome Antifosfolípide) no Hospital das Clínicas, Dra. Danieli Castro de Oliveira.
A especialista iniciou a palestra fazendo uma referência histórica sobre a descoberta da doença, citada por Hipócrates cerca de 375 a.C. A patologia atinge, em sua maioria, mulheres em idade fértil, entre 16 e 50 anos. Dr. Danieli enfatizou que tratar lúpus e SAF não é apenas dar remédio para a pessoa. “ O lado emocional deve ser levado em conta no tratamento da doença”, ressaltou a doutora.
Sobre o lúpus, a reumatologista afirma que para um diagnóstico e tratamento eficaz, é preciso saber qual é o tipo de lúpus o paciente. Dentre os sintomas mais comuns, o cansaço excessivo aparece em cerca de 90% dos casos.
A especialista destaca a importância em identificar a doença em estágio inicial, para evitar a cronificação do lúpus, o uso desnecessário de corticoterapia prolongada, além de, fazer uso de imunossupressor adequado para cada situação. “Nem todas as pessoas com lúpus precisam tomar remédio para o resto da vida. Porém a cloroquina é o remédio que deve estar sempre presente na vida do paciente, salve é claro as exceções”, destacou a reumatologista.
A dosagem dos medicamentos, principalmente do corticoide, tem sido alvo constante de debates em diversos congressos na área da reumatologia em que a especialista participa. “Com o avanço na medicina o paciente vive mais e melhor do que antes, o problema hoje é o tratamento. Muitos desses tratamentos têm uma evolução ruim por causa do excesso de medicamento”, ressaltou.
Uma das dúvidas constantes de diversos pacientes é sobre os fatores de preditores para lúpus. A Dra. Danieli afirma que o lúpus não é uma doença hereditária, porém em famílias em que existam casos de doença autoimune, a chance de desenvolver a patologia é maior.
Síndrome Antifosfolípide – SAF
Umas das instâncias para se fechar diagnóstico de SAF é a instância clínica, como por exemplo, na constatação de trombose. “Quando a pessoa deixa de enxergar de uma hora para outra (trombo no olho), ou uma mulher de 30 anos com diagnóstico de infarto, pode ser considerado um alerta para SAF. Qualquer obstrução no vaso pode ser Síndrome Antifosfolípide, trombose adquirida, tirando casos de histórico familiar”, declarou a palestrante.
Dra. Danieli enfatizou ainda que SAF e lúpus são doenças primas, a ocorrência de quem tem uma adquirir a outra é muito grande, cerca de 1/6 dos pacientes, uma taxa elevada em se tratando de uma doença rara.
A reumatologista afirma ainda que outra evidência para se constatar a doença é quando a mulher teve perda gestacional de três abortos. Nesses casos é necessário exame de anticorpos e o tratamento se dá por meio de anticoagulante.
Como participa do Conselho de Reumatologia Brasileiro, a especialista está a par de pesquisas e drogas eficazes para o controle da SAF. “Em termos de tratamento, Xarelto para SAF é proscrito, ou seja, contraindicado, porque não tem nível de evidência cientifica suficiente. Ele pode causar trombose, sangramento e não possui antídoto. Em casos de tratamentos com outras doenças, como trombose venosa, por exemplo, ele tem se mostrado muito eficaz”, garante a reumatologista.
Em uma publicação realizado pela especialista sobre o uso de ecoluzumabe, monoclonal anti C5, foi constatado sua eficácia em pacientes com plaquetopenia, ou seja, com plaquetas baixas, como avaliação do complemento. “Fomos procurados pela indústria farmacêutica para fazer uma pesquisa com pacientes com plaquetopenia, com o uso do ecoluzumabe. Porém, o grande problema é que o tryal era restrito e não foi possível encontra pacientes suficientes para esse tipo de pesquisa”, declarou Dr. Danieli.
Além dos cuidados com a doença, os pacientes com SAF precisam estar atentos às medidas básicas de saúde, como cuidar dos níveis de colesterol, fazer exercícios físicos, evitar a obesidade e o tabagismo, pois esses fatores aumentam o risco de trombose.
A especialista tocou em um ponto muito importante para as mulheres que possuem lúpus ou SAF, que é o desejo de ser mãe. “Quem tem a doença pode engravidar, negar isso é um crime perante a vontade da mulher de ter filho. Se nos últimos seis meses a doença estiver fora de atividade, ela pode engravidar, existe algumas medidas como troca de um medicamento, por exemplo, para que ela possa ter uma gestação normal”, garantiu a Dr. Danieli.
Ao final da apresentação, os participantes puderam esclarecer diversas dúvidas sobre a doença e as formas de tratamento.