Cerca de 650 reumatologistas do Cone Sul debateram sobre novos procedimentos, formas de tratamento e sobre os lançamentos da indústria farmacêutica durante três dias, em Gramado (RS), na 21ª Jornada Cone Sul de Reumatologia. O evento comprovou que a reumatologia brasileira está bem avançada quando o objetivo é propiciar melhoria na qualidade de vida dos pacientes.
Ricardo Xavier, presidente da Sociedade de Reumatologia do Rio Grande do Sul, afirma que o grande resultado do encontro foi o aprofundamento na discussão sobre as técnicas de remissão e avaliação da atividade das doenças. “Hoje, em alguns casos, é possível diminuir a administração de fármacos ou mesmo descontinuar”. Outro destaque apontado por Xavier foi a palestra do espanhol Juan Gómez-Reino que abordou a pré-artrite reumatoide. Segundo o médico, através de marcadores genéticos, estudo do histórico familiar do paciente e ainda análise de alguns marcadores de sangue já se consegue ter uma ideia razoável para prever o desenvolvimento da doença. Mas são as opções em biofármacos que estão trazendo uma nova luz para a remissão das patologias. “Antes tínhamos uma escassez em opções. Hoje, há um leque que podemos usar para aquele paciente que não se adapta a este ou aquele medicamento”, avalia o presidente da Sociedade gaúcha de Reumatologia.
Com relação à realidade dos pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS), Xavier salienta que ainda há dificuldades. No RS, o médico conta que foram adotadas algumas estratégias em conjunto com a Secretaria de Saúde para tentar otimizar os encaminhamentos a partir da atenção básica. Como resultado, a fila de espera – em Porto Alegre, por exemplo – foi reduzida para um ou dois meses. Segundo Xavier, isto é um avanço na saúde pública, pois antes nem os pacientes ou mesmo os médicos da atenção básica reconheciam a importância de identificar precocemente a doença e encaminhar para o especialista.
A espiritualidade como auxílio na cura
O 1º Encontro de Pacientes Reumáticos Cone Sul-RS – promovido pelo Grupal, primeiro grupo de apoio aos pacientes reumáticos na América Latina e pela Associação Alureu Sinos – alertou para a importância do diagnóstico precoce das doenças reumáticas. O Encontro que aconteceu em paralelo à Jornada reuniu cerca de 20 agentes de saúde comunitária da cidade de Gramado e alcançou mais de 100 mil pacientes por meio de transmissão ao vivo nas redes sociais das associações de pacientes.
Uma das palestras mais prestigiadas foi a da médica Tatiana Tourinho, coordenadora da residência de reumatologia da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre, que abordou o tema Espiritualidade. Atendendo basicamente pacientes do SUS, a médica conta que tem muito interesse em tratamentos de apoio, já que esses pacientes sofrem muito “as dores e incapacidades físicas ocasionam perdas emocionais como fim de relacionamentos, desemprego, entre outros. Então, as doenças reumáticas influenciam em um contexto mais amplo, o indivíduo, a família, a comunidade””, justifica Tatiana ao destacar que essa realidade, muitas vezes, dificulta a adesão do paciente ao tratamento. Esta constatação levou a médica e aprofundar estudos sobre a Espiritualidade. Como resultado detectou que o paciente fica feliz quando o médico aborda este aspecto: “aumenta o vínculo com o entendimento por parte do paciente de que o médico está interessado na sua intimidade e necessidades”. Dentro desta ótica, o ambulatório de reumatologia da Santa Casa desenvolve, atualmente, uma pesquisa com mais de 300 pacientes – com questionários orientados pelos pesquisadores americanos Christina Puchalski e Harold G. Koenig, considerados os maiores especialistas no campo da espiritualidade e sua influência sobre a saúde – para identificar quem utiliza recurso espiritual. “Quando identificamos o uso e o não prejuízo ao tratamento, reforçamos e prescrevemos”. A pesquisa ficará pronta com todos os dados até o final deste ano, mas, uma das constatações que já podem ser adiantadas é que a imensa maioria dos pacientes tem algum tipo de recurso religioso.
A jornalista e blogueira Priscila Torres, do Blog Artrite Reumatoide e coordenadora de comunicação e advocacy no Grupar e EncontrAR, participou ativamente da jornada como profissional e paciente. Para ela, a jornada inovou muito no fomento da discussão sobre o gerenciamento médico e multidisciplinar da remissão: “Há 20 anos, falar em remissão era algo visionário, no entanto, conforme dados apresentados, a remissão já é possível, inclusive, com diminuição das doses dos medicamentos e até mesmo a decisão compartilhada sobre a retirada de medicamentos em algumas doenças. Isso para os pacientes significa a esperança que a inovação na reumatologia, em algum momento, poderá falar da cura”, conclui Priscila.
Fonte: Carmem Carlet – CCMS Jornalistas Associadas