Evento contou com a presença de pacientes, familiares e profissionais de saúde renomados na área da reumatologia
O III Seminário sobre Lúpus aconteceu no dia 28 de novembro, das 9h às 17h na sala Sérgio Vieira de Melo na Câmara Municipal de São Paulo. O encontro reuniu pacientes com Lúpus familiares, blogueiras lúpicas, além de contar com a presença de diversos blogueiros da saúde. O evento foi realizado em parceria com os organizadores do Grupar-RP, Encontrar, dos blogs Artrite Reumatoide e Meninas com Lúpus, do vereador Gilberto Natalini e da Glaxo Smith Kline.
A primeira palestra foi ministrada pelo médico reumatologista Dr. Ari Radu Halpern sobre Nefrite Lúpica. De acordo com o especialista, a manifestação renal em pacientes com Lúpus é um dos sintomas que merecem mais cuidado e atenção. “É necessário tratamento contínuo, altamente especializado. O atendimento deve ser realizado em ambiente secundário e terciário, sempre por um especialista” afirmou Halpern.
Segundo o reumatologista, mesmo que dois pacientes com lúpus tenham sintomas semelhantes, não existe um tratamento padrão para todos os casos. Há, pelo menos seis tipos de classificação de Nefrite Lúpica, são elas: mesanginal mínima, mesangioproliferativa, difusa membranosa e esclerose avançada.
Para combater e estabilizar esse tipo de enfermidade, os tratamentos tradicionais ainda são os mais confiáveis, com uso do cortisona, por exemplo, medicamento essencial no processo anti-inflamatório. “O ideal é evitar a lesão definitiva, nesse caso, o uso de corticoide é um aliado muito útil” declarou Dr. Halpern.
Nos casos refratários, as recomendações atuais da Sociedade Brasileira de Nefrologia são diferentes naquelas nefrites que não responderam ao tratamento, ela sugere o uso do medicamento rituximab ou macrolídeos.
O reumatologista ressaltou ainda sobre o cuidado que se deve tomar no uso de novas drogas, principalmente aquelas divulgadas pela mídia, que trazem soluções promissoras no tratamento, mas que não possuem nenhuma evidência científica. Um dos exemplos citados durante a palestra foi o medicamento r ituximab. Ao relembrar o caso, citou o estudo da professora Joan T. Merrill sobre pacientes portadores de lúpus moderado a grave. Na pesquisa de 2009, constatou-se que não houve diferença na taxa de recidiva clínica entre os pacientes que tomaram Rituximab e aqueles que fizeram uso de placebo, tornando se uma grande decepção para a pesquisadora.
“Já em agosto de 2013, foi divulgado o primeiro estudo sobre a eficácia no tratamento de nefrite lúpica sem o uso de corticoide, com o uso do rituximab, o mesmo medicamento que havia dado negativo nos anos anteriores. Pela complexidade de casos como esse, o uso de medicamentos tradicionais continuam sendo a melhor opção para um tratamento mais confiável. O caso do rituximab constatou-se sua eficiência, sem os efeitos negativos do corticoide, mas ainda não entrou na portaria da Secretaria de Saúde”, destacou.
Dentre as novidades apresentadas recentemente, o benlysta aparece como um dos medicamentos promissores. “Esse é o primeiro remédio usado em pacientes com lúpus sem manifestação renal. O benlysta apresentou bons resultados, talvez seja uma novidade a curto prazo”, ressaltou o reumatologista.
Porém casos polêmicos sobre medicamentos que prometem a cura, ainda são intensamente divulgados na internet. Outro exemplo citado durante o evento foi a divulgação de uma pesquisa publicada na revista Sciense Translational Medicina, pelo blog do Unipem. A publicação, realizada por pesquisadores da Universidade da Flórida, afirma que de acordo testes realizados com uma nova droga, é possível obter a cura para o Lúpus. Porém, os testes foram realizados em ratos, o que não traz nenhuma evidência que o medicamento é eficaz em seres humanos.
Apesar de episódios como estes, o Dr. Ari afirma que existem grandes avanços no controle da doença. O especialista afirma que neste momento diversas drogas estão em testes, algumas novas outras reformuladas, como: belimumab via SC, anti-interferon, anifrolumab (anti interferon), rontalizumab, sifalizumab, dapirolizumab pegol, trioxido arsenic, interleucina 2 em baixa dose, anti IL-6/ILS-R, tofacitinib (inibidor da JAK), anti CD 74, anti CD 30, netinavir (liga-se com anti-DNA), inibidores proteossômicos e ustekinumab (bloqueia sinalização das IL-1 e IL-17). Estudos em andamento com o anifrolunab tem mostrado resultados positivos em pacientes em fase intermediária.
Contudo, é preciso ficar atento às informações divulgadas sem comprovação científica, inclusive por profissionais associados à indústria farmacêutica. “Sou obrigado a criticar quando alguns profissionais da área da saúde, inclusive médicos, que participam de verdadeiras campanhas promocionais disfarçadas de informação científica consistente”, enfatizou o doutor.
Risco gestacional de pacientes com lúpus, mãe e filho
A chance de obter complicação na gestação quando a nefrite lúpica não está controlada é muito grande, podendo trazer riscos para a mãe e o bebê. Dentre os problemas gestacionais estão: Recidiva clínica (nefrite, envolvimento de SNC), pré-eclâmpsia, síndrome anti-fosfolípide e lúpus neonatal.
Halpern declara que a pré-eclâmpsia é um fator que pode acometer mulheres com ou sem lúpus. A diferença é que em pacientes com nefrite lúpica, os sintomas podem ser confundidos com a manifestação da doença. Para evitar este risco, é necessário um controle intenso da pressão arterial.
Em casos de lúpus neonatal é preciso que pré-natal e o pós-natal seja bem feito, com acompanhamento de um obstetra especialista, com uso do doppler e, após nascimento, a realização de testes radiográficos.
Dr. Ari lista algumas ações que devem ser levadas em conta quando a paciente decide ter filhos, são elas: adiar gestação se doença renal ou lúpus estiver em atividade, fazer um pré natal com acompanhamento do obstetra e do reumatologista, monitorização materna e fetal frequente, controle rigoroso de PA, Prevenção e acompanhamento em gestações SAF +, Acompanhamento de gestações anti SSA/SSB e cuidados com feto e neonato de mãos anti SSA /SSB.
Dentre os medicamentos que podem ser utilizados na gravidez, estão: plaquinol, azathioprine, para quem precisa de imunossupressão, corticoide e cloroquina. No caso dos biológicos ainda não se tem estudos comprovados.
Halpern finaliza dizendo que ter uma vida saudável é importante para quem tem ou não a doença. “Hoje em dia as pessoas não morrem mais de Lúpus. Procure ter uma vida normal, sem esquecer de que é necessário tratar a doença, mas não viva em função dela”.