Pesquisa revela que 84% dos pacientes reumáticos enfrentam dificuldades no acesso e disponibilidade da hidroxicloroquina
“84% dos pacientes enfrentam dificuldades para comprar cloroquina. 25% declararam já estar sem o medicamento. 44% ficarão sem hidroxicloroquina nos próximos dias”. Esses são alguns dos primeiros resultados da pesquisa online realizada pela Biored Brasil, por meio da Organização Não Governamental Grupo de Apoio ao Paciente Reumático de Ribeirão Preto (ONG Grupar-RP).
Iniciada em 20 de maio, após o Ministério da Saúde publicar uma orientação de tratamento precoce do coronavírus com hidroxicloroquina/cloroquina, a pesquisa ouviu quase 700 pacientes de todos os estados brasileiros com doenças crônicas, em especial com Lúpus e Artrite Reumatoide, que fazem uso do medicamento como tratamento contínuo e essencial.
A pesquisa avaliou a disponibilidade para compra e o acesso dos medicamentos no Sistema Único de Saúde (SUS), de forma a quantificar o número de pacientes que encontram-se com o tratamento interrompido ou dificultado pela dificuldade para comprar nas farmácias tradicionais ou receber do SUS pelas unidades das farmácias de alto custo.
Segundo o médico reumatologista e presidente da Sociedade Paulista de Reumatologia, Marcelo Pinheiro essas medicações são largamente utilizadas pelos reumatologistas para o tratamento de pacientes com Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES), Lúpus Cutâneo, Artrite Reumatoide, Síndrome de Sjögren e alguns casos de Osteoartrite de Mãos.
O médico afirma que os pacientes que usam hidroxicloroquina ou cloroquina não podem ficar desabastecidos dessas medicações, alertando para os riscos que os pacientes irão enfrentar ao interromper o uso das medicações como: a reativação da doença, a piora da dor e da inflamação e o maior risco de danos e sequelas. “Nós como sociedades médicas na área de reumatologia, tanto a Sociedade Brasileira de Reumatologia quanto a Sociedade Paulista de Reumatologia estamos envolvidos em garantir o abastecimento dessas medicações”, salienta Dr. Marcelo Pinheiro.
A Conselheira Nacional de Saúde e representante da Associação Brasileira Superando o Lúpus, Doenças Reumáticas e Raras, Ana Lúcia Paduello, alerta que a divulgação de que a cloroquina e seus derivados como a hidroxicloroquina seria a alternativa para combater a pandemia está impactando na disponibilidade do medicamento para esses pacientes. “Nós, pacientes reumáticos, usuários dessas medicações, estamos vendo elas sumirem das farmácias. Isso coloca em risco a continuidade do tratamento. É uma irresponsabilidade uma indicação dessas”, desabafou.
Paduello ressalta que a Superando Lúpus recebeu notificações de pacientes de todo o Brasil com dificuldades para encontrar o medicamento, com destaque aos estados do Norte e Nordeste como os que apresentaram o pior índice de acesso.
A blogueira, que convive com Lúpus Ana Geórgia Simão, 39 anos, recentemente realizou uma enquete em seu o Blog “A Menina e o Lúpus”, onde as pessoas revelaram que estão sem tomar a medicação por não encontrá-la nas farmácias e drogarias. Aninha, que usou cloroquina por 20 anos e há três não utiliza mais o medicamento, destacou: “O medicamento é essencial na manutenção da saúde. Isso atrapalhou a vida dos pacientes porque além de ter esgotado todos os estoques nas farmácias, elas estavam vendendo um medicamento por paciente”.
Resumo dos dados coletados na pesquisa:
- 95% dos pacientes (648) convivendo com doenças reumáticas (lúpus, artrite reumatoide, síndrome de sjogren e dermatomiosite) e utilizam continuamente a hidroxicloroquina em seu tratamento.
- 83% dos pacientes compram a hidroxicloroquina em farmácias tradicionais e apenas 16% recebem do SUS por meio das farmácias de alto custo.
- Antes da pandemia, 65% dos pacientes afirmam que nunca tiveram dificuldades para comprar a hidroxicloroquina e 10% deles, declaram nunca ter faltado na farmácia de alto custo.
- Depois da pandemia, 84% dos pacientes não encontram a hidroxicloroquina para comprar nas farmácias de sua região.
- 26% dos pacientes encontram-se sem a hidroxicloroquina e 41% afirmam ter medicamento para apenas alguns dias, declarando que nos próximos 15 dias ficaram totalmente sem hidroxicloroquina.
- Antes da pandemia o custo mensal de uma dose usada na reumatologia, chegava a média de R$ 100,00, durante a pandemia diminuiu a disponibilidade nas farmácias convencionais e o preço nas farmácias de manipulação chega até R$ 450,00. O alto custo, inviabiliza a compra para 35% dos pacientes e 42% afirmam que “conseguem comprar, porém com dificuldades”.
No dia 20 de março a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), enquadrou a hidroxicloroquina e a cloroquina como medicamentos de controle especial, passando a ser exigido a receita branca em duas vias, dessa forma a receita passa a ser retida, inviabilizando a compra em farmácias online.
Realizamos contato com 5 grandes redes de farmácias que confirmam a disponibilidade de hidroxicloroquina para venda porém, somente podem vender presencialmente, apenas uma delas, disponibiliza o envio da receita por sedex, porém sem garantia de extravio da receita ou do medicamento.
Pesquisamos a disponibilidade de compra em farmácias de manipulação nas 5 regiões do Brasil, fizemos a cotação para comprar a dose de 30 dias, de hidroxicloroquina 400 mg, no sudeste o valor médio encontrado foi de R$ 257,00, chegando até R$ 450, 00 no norte do Brasil. Neste tipo de farmácia, em todas as regiões foi oferecido o envio da receita por Whatsapp e apenas uma delas ofereceu o envio por sedex. Lembrando que em ambos os tipos de farmácias, o custo de envio da receita e do medicamento é pago integralmente pelo paciente, onerando ainda mais um acesso que deveria estar sendo garantido pelo Sistema Único de Saúde.
A Biored Brasil continuará coletando novos dados para que as associações possam fazer a utilização quantitativa e qualitativa dos resultados assim defender a garantia de acesso aos pacientes crônicos brasileiros. O formulário da pesquisa está disponível na internet por meio do link https://forms.gle/Pxc5LxQScavcHCM1A