Luciana Saddi, em Folha.com
A Fibromialgia caracteriza-se por manifestações como: dor constante, generalizada e crônica, fadiga, indisposição, desânimo e distúrbios do sono.
Há muitas hipóteses de relação causa-efeito, segundo a medicina, para identificar a Fibromialgia, mas apesar de diferentes métodos de avaliação (exames), muitas vezes, não encontramos respaldo científico para a confirmação do diagnóstico. Como não há exames complementares que possam confirmar o diagnóstico, um dos critérios utilizados pelos médicos é a persistência dos sintomas por mais de 3 meses.
O paciente fibromiálgico sobrevive à base de analgésicos, anti-depressivos, ansiolíticos. Não há qualidade de vida e as dores tornam-se, muitas vezes, incapacitantes. É mais frequente ocorrer no sexo feminino.
Para a psicanálise, a Fibromialgia, deve ser incluída no âmbito das doenças psicossomáticas. E é neste enfoque que pretendo me deter. O corpo e a dor que nele reside, são utilizados para organizar nossas emoções que estão sem espaço e sem lugar. Psicossomatizar significa transferir para o corpo sintomas cuja origem vem dos sofrimentos mentais.
Na base da doença psicossomática temos situações traumáticas, não assimiladas, que provocam intenso sofrimento psíquico. Este sofrimento não encontra dentro da pessoa uma explicação, um espaço que o acalme e continua agindo de forma a se tornar uma experiência desconhecida, insuportável e não identificável. Um dos recursos que a mente se utiliza para este alívio é o corpo. É transferida para o corpo esta carga de sofrimento mental. Estas somatizações são necessárias, pois ajudam a pessoa a se organizar psiquicamente. A dor representa o depósito dos conflitos.
Na fibromialgia o paciente frequentemente se queixa de depressão, são melancólicos, trazem um sentimento de mágoa, ressentimento e falta de esperança. Acreditamos que as vivências traumáticas contribuem para o aparecimento dos sintomas. Estas experiências provocam um sentimento de terror (medo), que se manifestam através de um discurso vazio e repetitivo, apático, como forma de tentar achar um significado, achar um lugar para este terror sem nome. Outra característica importante é a insônia. Frequentemente têm sono interrompido, não conseguem dormir. Tudo contribui para agravar a condição da dor no corpo. Sair da vigília e se entregar ao sono e a possibilidade de sonhar é assustador. A possibilidade de se deixar livre e perder o controle sobre si mesmo também é assustadora, na medida em que os sonhos podem representar estes medos. Sonham pouco, estão sempre alertas a qualquer movimento estranho e relatam, quando sonham, pesadelos, perseguições, censuras.
É um grande sofrimento físico e mental. O profissional precisa estar pronto para um acolhimento sem críticas e sem desejo de eliminar os sintomas rapidamente, não esquecendo que eles existem para ajudar a organizar o mundo mental. Portanto a dor é organizadora, e não deve ser julgada pelo terapeuta.
A partir destes pontos podemos pensar que uma melhor maneira de se tratar o assunto é a associação da psiquiatria (uma vez que os pacientes fazem uso de antidepressivos e ansiolíticos) e a terapia. Os analgésicos podem ajudar, mas sua eficiência em relação ao alívio da dor é incipiente. O trabalho é longo, recomenda-se que o paciente frequente o terapeuta pelo menos duas vezes por semana.
* Silvia Joas Erdos é psicóloga e psicanalista membro associado da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo e membro do grupo de estudos sobre investigação das expressões corporais da dor psíquica: dor clínica e psicossomática psicanalítica.
Fonte: http://falecomigo.blogfolha.uol.com.br/2012/04/26/fibromialgia/