Portadores de doenças crônicas têm aguardado por até três meses para conseguir medicamento gratuito e de uso contínuo na Farmácia de Minas, em BH. Dos 323 remédios distribuídos, 112 estão com o estoque zerado. A escassez prejudica o tratamento. A espera, em alguns casos, coloca em perigo a vida dos pacientes.
Além do desabastecimento, outra dificuldade é a falta de gelo para a retirada de fármacos que demandam temperatura baixa para a conservação, os chamados termolábeis, como a insulina. Muitas pessoas levam de casa bolsas térmicas ou isopor para retirar as substâncias no local.
O drama se arrasta desde o ano passado, ainda na antiga gestão do governo mineiro, conforme o Hoje em Dia já mostrou. Pendências financeiras, atrasos na entrega e no pagamento de fornecedores e até fracasso em licitações explicam o cenário, diz a Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG).
Enquanto a situação não se resolve, a população tenta se virar. Alguns pagam pelo remédio que deveria ser oferecido sem custos, como a instrumentadora cirúrgica Joice de Oliveira, de 32 anos. Portadora de um distúrbio renal, ela foi ontem à farmácia, mas não encontrou a medicação.
“Uso duas caixas por mês. Às vezes, consigo comprar, mas tem vez que infelizmente não”. Joice chega a gastar R$ 650 a cada 30 dias. “Fico triste porque o meu problema só aumenta”,afirma.
Já a moradora de Contagem, na Grande BH, Averilda Oliveira Amaral, de 62, diz que a família não tem condições de arcar com a compra dos comprimidos usados pelo marido, de 65, que aguarda por um transplante de rim há três anos. A caixa do fármaco varia de R$ 50 a R$ 100 na rede particular. “Além disso, ele é diabético e deficiente visual. Sem o medicamento, a situação se complica cada vez mais”, conta.
Professor do Departamento de Clínica Médica da UFMG, André Murad diz que a interrupção do tratamento durante a espera por um transplante pode anular o futuro procedimento. “Há um risco grave de se perder o órgão transplantado porque o medicamento é que vai modular o sistema imunológico para receber o novo órgão”, diz.
O desabastecimento contribui ainda para que o tratamento retroceda, garante a coordenadora do curso de enfermagem das Faculdades Kennedy, Débora Gomes. “Coloca em risco a vida da população”, crava a docente.
Máquina de gelo da farmácia está quebrada. Pacientes levam isopor de casa para retirar os remédios
Falta de gelo
Pacientes atendidos na Farmácia de Minas dizem que a falta de gelo já dura dois meses. “Desde março, levo minha bolsa (térmica). Não ter medicamento já é difícil de compreender, mas gelo, impossível”, afirma a manicure Yolanda Fernandes, de 58 anos.
Ela faz tratamento de uma artrite psoriática – uma inflamação nas articulações – e o remédio retirado precisa ser armazenado em baixa temperatura.
Respostas
Em nota, a SES informou que os motivos da falta são variados. Dentre eles, atraso de entrega por fornecedores e Ministério da Saúde. “Com relação à pendência financeira do Estado junto aos fornecedores, cuja dívida foi herdada do governo anterior, estão sendo feitas ações prioritárias para a regularização”, como negociações e a cobrança de inadimplentes. Ainda conforme a secretaria, a máquina de gelo da farmácia está em manutenção.
A SES vem buscado regularizar o fornecimento o mais rápido possível”. Ao todo, 52 medicamentos termolábeis são fornecidos na unidade.
O Ministério da Saúde não se manifestou até o fechamento desta edição. Procurado, o PT em Minas informou que não responde pela gestão do ex-governador Fernando Pimentel. Não foram localizados ex-gestor do Estado nem secretários. A reportagem ainda também tentou falar com outros políticos da sigla, sem sucesso.
Fonte: Jornal Hoje em Dia