Por Priscila Carvalho, da Agência Einstein – Todos os meses, durante o período da menstruação, a camada interna do útero (conhecida por endométrio) descama e é expelida via o canal vaginal. Se as células endometriais permanecem no organismo, migram e crescem em outras partes do corpo, como a região abdominal, ovários e tubas uterinas, gerando uma doença inflamatória crônica: a endometriose.
As causas ainda não estão claras, mas estima-se que múltiplos fatores estejam associados, desde a genética à deficiência do sistema imunológico. Pacientes com histórico familiar de endometriose, por exemplo, estão mais suscetíveis à condição.
“É uma doença que acomete cerca de 10% das mulheres em idade reprodutiva. Isso representa quase 200 milhões de mulheres no mundo”, segundo Renato Tomioka, ginecologista especialista em endoscopia ginecológica (laparoscopia e histeroscopia) pela Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO) e médico da clínica VidaBemVinda.
A endometriose pode ser silenciosa, muitas vezes, sendo necessário recorrer aos exames de rotina para um diagnóstico preciso. No entanto, os sinais mais comuns vêm em forma de dor.
De acordo com dados do Colégio Norte-Americano de Obstetras e Ginecologistas, a dor pélvica crônica é um dos sintomas mais frequentes, especialmente quando surge pouco antes e durante o período menstrual. Cólicas menstruais intensas também podem soar o alarme, bem como uma dor durante as relações sexuais. Deve-se prestar atenção também na intensidade do ciclo menstrual e caso tenha dificuldades para engravidar.
Se a doença atingir a região do intestino, a pessoa pode sentir desconforto com os movimentos do órgão. Da mesma forma com a bexiga: dores na hora de urinar estão associados à condição.
Exames de laparoscopia, ultrassom, ressonância magnética e análises de sangue são indicados para o diagnóstico da endometriose. Em alguns casos, é preciso recorrer à biópsia, quando um pedaço do tecido é coletado durante o exame de laparoscopia e, na sequência, testado.
Tipos
O problema pode se manifestar de três maneiras no organismo da mulher:
- Superficial: acomete os órgãos ou peritônio, membrana que recobre os órgãos da região abdominal e pélvica. É uma forma menos agressiva, com lesões pequenas, de 1 a 3 milímetros, mas ainda assim deve ser tratada.
- Profunda: atinge mais de cinco milímetros os tecidos. É considerada a forma mais grave da doença.
- Ovariana: caracterizada pela formação de cistos nos ovários, preenchidos por uma substância líquida e escura, chamados de endometriomas. Podem prejudicar a reserva ovariana e a fertilidade.
Tratamentos
Quando a doença é diagnosticada, os tratamentos disponíveis variam de acordo com a extensão da doença, sintomas e o desejo de engravidar, segundo dados do Colégio Norte-Americano de Ginecologistas e Obstetras. Em geral, envolvem cirurgia e medicações, especialmente para minimizar a dor.
Em alguns casos, mudanças no estilo de vida, com a inclusão de exercícios físicos e uma dieta que diminua o risco de inflamações, podem ser indicadas. Bem como a prescrição de anticoncepcionais hormonais de uso contínuo.
Para casais que desejam engravidar, a abordagem é diferente. Os remédios não são indicados na maioria dos casos e é preciso recorrer a outros métodos, como cirurgias.
Se as terapias não surtirem efeito ou a paciente sentir muita dor, os especialistas podem indicar procedimentos cirúrgicos minimamente invasivos, como laparoscopia ou cirurgia robótica, explica a ginecologista Fernanda Rodrigues, especialista em endoscopia ginecológica pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e médica da Huntington Medicina Reprodutiva. “A cirurgia, por sua vez, pode ser indicada, pois evidências apontam que pode melhorar as chances de gravidez”, destaca.
Durante a menopausa, há uma redução na produção dos hormônios que favorecem a doença e as inflamações da endometriose diminuem naturalmente.
Endometriose e infertilidade
Em todos os estágios da doença, a fertilidade pode ser comprometida. Por isso, é fundamental manter os exames ginecológicos em dia e consultar especialistas com frequência.
Entre as principais causas da infertilidade, após o diagnóstico da endometriose, estão:
- Distorção da cavidade pélvica e aderências entre os órgãos, que podem prejudicar as trompas, dificultando mecanicamente o transporte de óvulos, espermatozoides e embriões.
- Alteração do fluido peritoneal, impactando na qualidade dos óvulos, desenvolvimento embrionário e implantação;
Dificuldade no encontro dos gametas (óvulos e espermatozoides) e, eventualmente, na implantação do embrião ao útero, prejudicando fertilidade natural.
Fonte: Tudo Rondônia.