Sentir dores periodicamente é normal e nem sempre indica algum problema grave —são sinais que o corpo humano dá de que algo não vai bem e precisa de atenção.
“A medicina enxerga a dor de forma diferente hoje —ela passou a se tornar o quinto sinal vital. Antes checávamos temperatura, frequência cardíaca, pressão arterial e saturação. Mas, hoje, escutar o paciente para classificar o nível de sua dor é essencial. Um dos grandes objetivos dentro de um pronto-socorro é fazer um paciente ir embora com uma dor menor do que quando ele chegou, o que nem sempre acontece se a pessoa não é bem ouvida”, explica Lucas Albanaz, médico clínico geral, especialista em dor e coordenador da Clínica Médica do Hospital Santa Lúcia, de Brasília.
Mas a verdade é que nem toda dor deve ser considerada motivo de preocupação, ou urgente o suficiente para procurar um médico.
“Existe um limiar de dor que é individual, algumas pessoas têm menos sensibilidade. A mesma lesão no corpo pode ter uma intensidade diferente dependendo de cada indivíduo. Mas patologias podem interferir nisso também, especialmente as que afetam nervos periféricos”, aponta Nilton Carneiro, cardiologista e clínico geral do Hospital Santa Catarina-Paulista (SP).
Algumas pessoas sofrem, ainda, de dor crônica, especialmente aquelas que enfrentam doenças autoimunes ou agressivas. O que caracteriza uma dor como crônica, em geral, explica Carneiro, é o tempo de sua duração, comumente definido como maior que três meses.
Abaixo, com a ajuda de especialistas, VivaBem lista algumas das principais dores que acometem os brasileiros e quais são os sinais que você deve procurar ajuda médica.
- Dor nas costas
Dores nas costas são muito comuns —causadas por motivos como ficar sentado por muito tempo e dormir de mal jeito— e por isso, não se deve assumir o pior.
“Quase todo mundo sente dor nas costas em algum momento. A dor lombar pode ser assustadora. Mas mesmo quando a dor é intensa, geralmente desaparece sozinha dentro de algumas semanas. Os casos que requerem atendimento de urgência ou cirurgia são raros”, afirma Carneiro.
O médico explica, ainda, que a intensidade da dor acaba sendo uma triagem. “Se o score de dor for muito intenso e impede a pessoa de realizar tarefas, o atendimento médico deve ser imediato.”
Erick Pordeus, clínico geral e professor da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco), também lista abaixo outros motivos importantes para procurar atendimento especializado —primeiramente em um pronto-socorro ou com clínico geral e, em seguida, com possível encaminhamento para profissionais de outras especialidades. Procure ajuda, se:
- A dor não começa a melhorar dentro de quatro semanas
- Recentemente teve uma queda ou uma lesão nas costas
- Tem dormência ou fraqueza nas pernas
- Tem problemas com o controle da bexiga ou do intestino
- Tem perda de peso inexplicável
- Tem febre ou sente-se doente de outras maneiras
- Toma medicamentos corticoides, como prednisona, regularmente
- Tem diabetes ou um problema médico que enfraquece seu sistema imunológico
- Tem histórico de câncer ou osteoporose
- Dor no estômago
Também chamada de “dor epigástrica” ou dor abdominal, o quadro tem várias possíveis causas.
Pode ser causado por algo que a pessoa comeu, mas, conforme explica o professor da UFPE, principalmente em pacientes acima de 40 anos, com histórico de diabetes ou hipertensão, não se pode de deixar de investigar uma possível causa cardiovascular. Outros sinais de alerta importantes são quando a dor acontece logo após um episódio intenso de estresse ou atividade física.
“Às vezes, durante um infarto, em vez de o paciente sentir a dor diretamente no peito, ele sente em cima do estômago. Alguns chegam no pronto-socorro dizendo que comeram algo que não caiu bem e descobrem o quadro mais grave depois de fazer um eletrocardiograma”, diz.
Um médico também deve ser procurado se a pessoa sente dor logo após comer, apresenta refluxo, sangramento nas fezes, tem febre associada ou sente dor muito intensa.
- Dor ao fazer xixi
Os especialistas consultados por VivaBem indicam que, na maioria dos casos, a dor ao urinar gera a suspeita de infecção urinaria nos médicos clínicos.
“O primeiro ‘corte’ usado para a suspeita é o sexo biológico, já que a infecção urinária é muito mais comum em mulheres por conta da anatomia. O indivíduo do sexo masculino, mesmo que tenha sintomas muito similares, pode estar sofrendo de outros quadros, como prostatite, que causa um processo inflamatório, por exemplo”, diz Nilton Carneiro.
Se o incômodo já dura alguns dias, é necessário buscar ajuda especializada antes de se automedicar. Se o paciente tomar antibióticos que sobraram de uma infecção passada, por exemplo, de forma errada, há risco de criar resistência bacteriana, gerando um quadro mais grave.
- Dor de garganta
A maioria das pessoas não precisa consultar um médico sobre dor de garganta. O incômodo geralmente é autolimitado, o que significa que passará em alguns dias, conforme acaba o ciclo do quadro secundário que o causou.
Mas alguns sinais, conforme explica o médico Erick Pordeus, podem indicar maior gravidade e necessitam de acompanhamento médico. Entre eles, estão a febre acima de 38°C e a dor grave nos primeiros dois dias e sem apresentar melhora no período de cinco a sete dias.
A prescrição do antibiótico, indica Lucas Albanaz, deve ser muito bem avaliada pelo médico. “Os medicamentos têm efeitos colaterais, podendo gerar resistência bacteriana e até reflexos negativos para o nosso organismo, como vômitos, diarreia e disbiose —já que o remédio pode matar não só a flora bacteriana ruim, mas também as bactérias benéficas, que ajudam o nosso intestino a funcionar bem. Então a gente tem que ter muito cuidado ao fazer esse tipo de prescrição e sobre a automedicação.”
“Outro sintoma de alerta são placas brancas na região da garganta e amígdalas, que indicam infecção bacteriana secundária. É um dos casos em que é necessária a consulta com um médico”, diz o especialista do Hospital Santa Catarina-Paulista.
A dor de garganta também pode ser um sintoma de covid-19 e, por isso, recomenda-se consultar um médico se outros sintomas causados pelo vírus, como fadiga, tosse, febre e perda de paladar e olfato também forem experimentados.
- Dor ao respirar
A dor torácica que aparece de repente, de forma aguda, é um quadro de necessidade de encaminhamento ao pronto-socorro imediatamente.
“Se for associada a respiração, é menos provável que seja um problema cardiológico. Pode ser acúmulo de líquido no pericárdio ou na pleura, embolia pulmonar, oxigenação baixa, e até doença ósseo-muscular. Mas é muito difícil o indivíduo se autoavaliar, e emergências não são espaço para o erro”, aponta Carneiro.
O comprometimento iminente da via aérea, complementa Pordeus, dá sinais como baba excessiva e dificuldade para engolir saliva, inchaço do pescoço ou da língua e dificuldade em mover o pescoço ou abrir a boca —todos sintomas que também pedem avaliação médica imediata.
- Dor de ouvido
A dor de ouvido costuma necessitar de avaliação médica. Ela é mais frequente em crianças, apresentada por um quadro chamado otite. A recorrência é maior porque a tuba auditiva na criança é mais horizontal e curta, deixando-a mais suscetível às inflamações e infecções.
De acordo com Lucas Albanaz, médico do Hospital Santa Lúcia, a dor de ouvido também pode ser um reflexo de inflamação de garganta que acaba irradiando para a tuba auditiva. “Pode, sim, ser um quadro de infecção, mas é necessário que um médico avalie se não há relação com outras doenças ou quadros”, diz.
Fonte: Assessoria de Imprensa