Um estudo recentemente realizado por especialistas em Reumatologia do Hospital Ortopédico de Sant’Ana e do Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental EPE – Hospital de Egas Moniz sobre os impactos do confinamento em doentes portugueses com Artrite Reumatoide (AR) refere que apenas uma minoria dos doentes interrompeu a sua medicação imunossupressora por receio de contágio e a maioria conservou o seu emprego.
Apenas 14% dos doentes suspendeu ou alterou a dose ou a frequência da medicação imunossupressora para a AR durante o período de confinamento. Destes, apenas 18% reduziram ou suspenderam por iniciativa própria devido ao receio de contrair infeção ao SARS-CoV-2 (correspondendo a 2,5% da população total do estudo), e outros 18% fizeram-no por não terem receitas suficientes, por não se quererem deslocar à farmácia ou por não terem possibilidade de pagar a medicação.
Dos doentes com AR que se encontravam empregados antes do confinamento, 16,2% foram colocados em regime de lay-off e 3% perderam o emprego no seguimento do confinamento. A maioria dos doentes que se manteve empregado durante o confinamento praticou regime de teletrabalho (55,4%).
De acordo com Filipe Araújo, médico da Unidade de Reumatologia e Osteoporose do Hospital de Sant’Ana – SCML e principal autor do estudo: “A pandemia a SARS-CoV-2 levou à declaração do Estado de Emergência em Portugal entre 18 de março e 3 de maio de 2020, período no qual vigorou o confinamento obrigatório. Desde o início da pandemia que se verificou uma priorização da alocação dos recursos de saúde ao combate à COVID-19, o que limitou significativamente o acesso aos cuidados de saúde programados e prejudicou a qualidade assistencial aos doentes crônicos, incluindo doentes reumáticos”.
Segundo os resultados apurados, 41% dos doentes com AR refere agravamento dos sintomas da doença (sobretudo da dor) durante o confinamento devido à pandemia a SARS-CoV-2, embora metade destes refira que o agravamento foi ligeiro. As principais causas apontadas pelos inquiridos para este agravamento foram a menor mobilidade e o aumento do stress, ansiedade e depressão.
De referir ainda que, durante o confinamento, a maioria dos doentes com AR (56,8%) não praticou qualquer exercício físico e 23,7% reduziram a prática face àquilo que faziam antes do confinamento.
Cerca de 67,3% dos doentes com AR desenvolveu ou agravou sintomas de ansiedade durante o confinamento, 29,9% dos quais moderados ou intensos. Mais de metade dos doentes inquiridos (51,9%) desenvolveu ou agravou sintomas de depressão durante o confinamento, 21,6% dos quais moderados ou intensos.
“Esta avaliação do impacto do confinamento destes doentes, que por terem uma doença autoimune são de maior risco em caso de contaminação com o novo coronavírus, é fundamental para delinear uma abordagem adequada aos mesmos no período pós-confinamento e preparar uma eventual segunda vaga”, conclui Filipe Araújo.
O estudo teve como co-autores Ana Filipa Mourão e Nuno Pina Gonçalves da Unidade de Reumatologia e Osteoporose do Hospital de Sant’Ana – SCML e do Serviço de Reumatologia do Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental EPE – Hospital de Egas Moniz.
O questionário foi disponibilizado aos doentes com AR através das redes sociais e mailing lists da Sociedade Portuguesa de Reumatologia, Associação Nacional de Doentes com Artrite Reumatoide (ANDAR) e Liga Portuguesa Contra as Doenças Reumáticas. O questionário foi ainda preenchido presencialmente em dois serviços de Reumatologia da área de Lisboa: Unidade de Reumatologia e Osteoporose, Hospital de Sant’Ana – SCML e Serviço de Reumatologia, Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental EPE – Hospital de Egas Moniz).
A AR é a mais frequente doença articular inflamatória crônica, afetando 0,7% da população portuguesa. Trata-se de uma doença imunomediada (ou autoimune), cujos sintomas geralmente melhoram com o movimento e com a atividade física e pioram com a imobilização. O tratamento é feito com fármacos que modulam certos alvos e/ou reduzem a atividade do sistema imunitário, conhecidos como imunossupressores.
Os doentes com AR, pela natureza da doença autoimune e do tratamento imunossupressor, apresentam potencial maior risco de contrair a infeção SARS-CoV-2 e de ter complicações dela decorrentes.
Fonte: Algarve.