Com a baixa nos termômetros, há um aumento no número de pessoas com queixas de dores articulares, popularmente conhecidas como dores nas juntas e reumatismo. Isso acontece especialmente entre a população que vive no Sul e no Sudeste do Brasil devido ao inverno mais rigoroso. O incômodo pode acometer principalmente indivíduos com problemas reumáticos, mas ninguém está livre de passar por este desconforto. O coordenador do Instituto de Reumatologia do Hospital Santa Paula, Jayme Fogagnolo Cobra, explica que existem poucos estudos sobre o assunto na literatura médica, mas supõe-se que isso se deve a uma conjunção de fatores:
– O organismo, quando submetido a baixas temperaturas, sofre constrição vascular periférica, ou seja, a circulação do sangue fica mais concentrada nas regiões internas do corpo como coração, pulmões, rins e cérebro e circula menos nas regiões periféricas como pele e musculatura.
– Existem terminações nervosas na pele, articulações, tendões e músculos que são estimuladas pelo frio e geram impulsos que são percebidos pelo cérebro como dor.
– Para reagir ao frio, os músculos tendem a contrair-se para produzir calor, podendo ser mais um fator causador de dor, principalmente em algumas pessoas que já sofrem de algumas doenças reumatológicas que envolvem inflamações das enteses, que é o ponto onde os tendões se unem aos ossos.
– Alguns estudos demonstraram que o líquido sinovial, aquele encontrado dentro das articulações que tem função de alimentar e “lubrificar” as superfícies articulares, torna-se mais espesso sob baixas temperaturas.
– Outro fator importante é que no inverno há uma tendência que as pessoas pratiquem menos exercícios. A imobilidade pode aumentar a sensação de dor. Nas pessoas com doenças inflamatórias como artrite reumatoide e espondiloartrites pode haver aumento de dor e rigidez das articulações.
Veja abaixo as dicas do reumatologista para aliviar a dor nos meses mais frios:
- Procure proteger-se do frio. Agasalhe-se, mantenha o corpo e as extremidades aquecidas, principalmente mãos e pés com luvas e meias grossas.
- Sempre que possível, procure permanecer em locais aquecidos tanto em casa como no trabalho.
- Dormir aquecido é fundamental. Se possível, utilize aquecedor no ambiente.
- Pratique atividade física mesmo no frio. Existem equipamentos esportivos específicos que permitem a prática segura e confortável de exercícios ao ar livre até nos invernos mais rigorosos. Atividades de baixo impacto, como caminhadas, também promovem aquecimento e ajudam a manter a lubrificação adequada das articulações, reforçando os músculos.
- Mantenha uma rotina diária de alongamentos para manter o tônus, a flexibilidade e a amplitude dos movimentos.
Se a dor estiver muito forte, faça uso de bolsas térmicas nas áreas doloridas. O calor descontrai os músculos, tendões e ligamentos e aliviam a pressão sobre as articulações, favorecendo a circulação sanguínea. “Normalmente, para pessoas que não possuem doenças reumatológicas essas medidas são suficientes para anular as sensações dolorosas. Se a dor persistir, o recomendado é procurar um reumatologista. Para quem faz tratamento de alguma doença inflamatória ou autoimune como artrite reumatoide, espondiloartrites, psoríase, lúpus eritematoso sistêmico, esclerose sistêmica, doença mista do tecido e outras, podem ser necessárias medidas medicamentosas para aliviar os sinais e sintomas agravados pelo frio”, explica o especialista.
Doenças reumáticas
As doenças reumáticas representam um conjunto de diferentes patologias que acometem os ossos, as articulações, cartilagens, músculos, tendões e ligamentos. Elas também podem comprometer outras partes e funções do corpo humano, como rins, coração, pulmões, olhos, intestino e até a pele.
Existe mais de uma centena de doenças reumáticas. As mais comuns são osteoartrite – também conhecida como artrose – fibromialgia, osteoporose, lúpus, artrite reumatoide e outras doenças inflamatórias como as espondiloartropatias soro negativas.
“A principal queixa das pessoas que chegam ao reumatologista é dor nas articulações. Em muitos casos, nas fases iniciais das doenças, as pessoas tentam tratar as crises de dor por conta própria, procuram um pronto-socorro ou outras especialidades para amenizar a dor e não prosseguem numa investigação da real causa por trás dessas crises. Quando o paciente chega ao reumatologista, a doença já pode estar mais avançada, tornando mais difícil e prolongado o tratamento”, afirma Jayme.
O médico reforça que é preciso aumentar a conscientização das pessoas sobre o universo das doenças reumáticas. Com informação, as pessoas tendem a procurar ajuda mais precocemente e diagnosticar as doenças nas fases mais iniciais, quando ainda não há sequelas, iniciando, portanto, o tratamento no momento certo, o que é um dos fatores determinantes para a eficácia na maioria dos casos.