O Brasil ainda ocupa apenas a 19º colocação no ranking global de estudos clínicos, ficando atrás de países como Egito, Taiwan e Índia, conforme informações do Guia 2022 Interfarma. Embora o país tenha um enorme potencial para realização de pesquisas clínicas, devido a numerosa população, o Brasil ainda sofre com a falta de investimentos no setor. De acordo com Simone Kairalla, Clinical Research Associate da Comsentimento, a saída para atrair recursos para os estudos e escalar a participação global do país no desenvolvimento de novas opções de tratamento para os pacientes seria aproveitar a diversidade étnica e racial, que pode potencializar a precisão dos resultados.
Para a especialista, o investimento no setor ajuda no desenvolvimento de novas opções de terapias para os pacientes, além de melhorar o acesso a elas e reduzir custos com internações e consultas. “Com mais de 210 milhões de habitantes, o grande potencial do Brasil na realização de estudos clínicos é o fato de ter uma variedade étnica/racial bastante diversificada. A miscigenação racial existente no país pode favorecer os resultados quando uma amostra heterogênea se faz necessária”, pontua. “Além disso, o Brasil conta com instituições altamente capacitadas para a realização de estudos de alta qualidade. A Comsentimento, por exemplo, participa do processo de recrutamento de voluntários em alguns desses grandes centros, como Barretos e AC Camargo, trazendo maior qualidade e efetividade nos processos”, explica Simone.
Devido à diferença de metabolismo de uma pessoa para outra, é necessário recrutar um vasto número de pacientes demograficamente distintos, para representar uma grande variedade genética, racial e cultural. A indústria farmacêutica já tem notado a importância de promover a inclusão social em diferentes âmbitos, tanto que, recentemente, o Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos (Sindusfarma) se pronunciou a favor de ações afirmativas para fomentar práticas de estímulo à diversidade, incentivando que empresas do setor adotem medidas internas e externas de inclusão.
“A diversidade étnica, racial e cultural é importante na pesquisa clínica por diversos motivos. A incidência e gravidade das doenças podem variar de acordo com a etnia e com os hábitos culturais. Existem casos de medicamentos oncológicos eficazes quando testados na Ásia, por exemplo, mas que não demonstraram o mesmo benefício quando testados em países do Ocidente”, explica a especialista.
Segundo a profissional, determinados efeitos colaterais ou reações adversas aos medicamentos também podem ser mais comuns em certas populações. “Com isso, ao realizar uma pesquisa com uma abrangente diversidade étnica e cultural, além de garantir que as descobertas sejam aplicáveis a todas as populações, também se gera um papel sociocultural, pois aumenta a confiança dos diferentes grupos em relação aos tratamentos e à pesquisa médica em geral”, detalhe Simone.
O futuro das pesquisas clínicas no Brasil
Embora a pesquisa clínica cresça a cada ano no Brasil, o que o torna o país com maior número de estudos em andamento na América Latina, em comparação ao cenário dos Estados Unidos e da China – que além de terem grandes populações, possuem existe um nível de investimento na indústria farmacêutica superior -, o mercado brasileiro ainda é bastante incipiente. No entanto, isso tem mudado rapidamente e a iminente aprovação do Marco Legal de Pesquisa Clínica em discussão no Congresso Nacional pode ser o caminho para alcançar o potencial do país, tornando o processo regulatório mais simples e ágil.
“O Brasil conta com excelentes centros de pesquisa com capacidade de conduzir protocolos internacionais, mas nosso maior trunfo é a ampla e diversa população. Uma pequena amostra disso foram os estudos da vacina do Covid, onde o Brasil superou todos os países da Europa em termos de número de participantes em pesquisas de fase II e fase III”, afirma Simone.
Segundo a especialista, o uso da tecnologia pode ser um aliado do setor. Um exemplo disso é a atuação da Comsentimento, que oferece ferramentas que auxiliam no recrutamento de pacientes, encontrando voluntários elegíveis para os estudos de forma mais rápida e eficiente, além de possibilitar um levantamento de dados epidemiológicos, facilitando o estudo de viabilidade.
“Dessa forma, investir em tecnologia, ampliar a divulgação dos estudos clínicos em andamento e estabelecer parcerias com outros players, como empresas farmacêuticas e instituições privadas, são caminhos viáveis para fomentar a pesquisa clínica no Brasil”, ressalta Simone. “Nosso país precisa de uma política pública de investimento na pesquisa clínica, além de facilitar o processo regulatório. Nós temos muito potencial para ficar entre os dez primeiros colocados no ranking de estudos clínicos, basta caminhar em direção a isso”, finaliza a profissional.