Conhecido fator de risco para o câncer, as doenças respiratórias e os problemas cardiovasculares, o tabagismo também pode desempenhar um papel importante no surgimento da artrite reumatoide (AR), enfermidade inflamatória crônica de elevado potencial incapacitante, podendo causar rigidez, deformidade articular e destruição óssea. De origem multifatorial, a artrite reumatoide está relacionada a fatores genéticos e externos, entre os quais o cigarro se destaca. Fumantes com predisposição genética para a doença, mesmo os passivos, apresentam risco aumentado de desenvolvê-la.
“Até hoje não se sabe a causa exata da artrite reumatoide. Mas os estudos associando a doença ao fumo são muito consistentes. Assim, os tabagistas que têm familiares com essa enfermidade devem parar de fumar, uma vez que o cigarro aumenta a suscetibilidade à doença”, recomenda a reumatologista Ieda Laurindo, doutora em Medicina pela Universidade de São Paulo (USP). Por isso, o Dia Mundial Sem Tabaco, celebrado em 31 de maio, representa uma ocasião importante para o compartilhamento de informações que contribuam para a conscientização sobre a influência do cigarro na AR.
O tabagismo funciona não apenas como um gatilho para o desencadeamento da doença, como também pode agravar o quadro dos pacientes que já desenvolveram a enfermidade. Por estimular os processos inflamatórios, o cigarro costuma acentuar os quadros articulares, podendo levar a formas mais severas da doença. Além disso, o tabaco pode comprometer o efeito de determinados tratamentos. “Pacientes fumantes não respondem tão bem a certas terapias do que os não fumantes”, afirma a médica.
O papel do cigarro no agravamento dos quadros de artrite reumatoide também está associado às comorbidades relacionadas à doença. Isso porque, frequentemente, esses pacientes apresentam também outras enfermidades concomitantes, ou patologias associadas, entre elas as doenças cardiovasculares. E o tabaco, por sua vez, aumenta os riscos de problemas cardiovasculares, como enfarte e acidente vascular cerebral (AVC).
No Brasil, a artrite reumatoide afeta cerca de 1% da população, o que representa 2 milhões de pessoas, o equivalente ao número de habitantes de uma cidade como Belo Horizonte (MG). Erroneamente associada à terceira idade, a enfermidade costuma ser diagnosticada por volta dos 40 anos, predominantemente em mulheres, no auge da vida profissional do paciente, causando um forte impacto econômico, familiar e pessoal.
Terapias
Apesar de não existir cura definitiva para artrite reumatoide, há hoje tratamentos capazes de controlar a doença, principalmente quando o diagnóstico é feito precocemente. Com isso é possível diminuir a atividade da doença, aliviar a dor e melhorar a qualidade de vida do paciente.
Considerando que a artrite reumatoide é uma doença autoimune, os medicamentos agem regulando essa autoimunidade exagerada. São os chamados medicamentos modificadores do curso da doença, que são conhecidos pelas siglas MMCDs (em português) ou DMARDs (em inglês). Há várias opções terapêuticas sintéticas e biológicas de MMCDs porque a doença exige tratamento contínuo e a troca de medicamento periodicamente.
Entre os medicamentos biológicos existentes está Enbrel (etanercepte), que inibe o fator de necrose tumoral alfa (TNF-alfa), uma proteína que estimula a inflamação. Assim, as terapias biológicas controlam os sinais e sintomas do processo inflamatório e podem prevenir danos irreversíveis nas articulações.
Recentemente chegou ao Brasil uma nova classe de medicamentos sintéticos para o tratamento da artrite reumatoide. Administrado por via oral, Xeljanz (citrato de tofacitinibe) tem um mecanismo inovador que age dentro das células, inibindo a janus quinase (JAK), uma proteína importante nos processos inflamatórios característicos da enfermidade. Trata-se do primeiro tratamento oral, não biológico, tipo MMCD e alvo-específico desenvolvido nos últimos 10 anos.
Referências
1. Söderlin M, Petersson I, Bergman S, Svensson B; BARFOT study group. Smoking at onset of rheumatoid arthritis (RA) and its effect on disease activity and functional status: experiences from BARFOT, a long-term observational study on early RA. Scand J Rheumatol 2011; 40(4):249–55
2. Saevarsdottir S, Wedrén S, Seddighzadeh M, Bengtsson C, Wesley A, Lindblad S et al. Patients with early rheumatoid arthritis who smoke are less likely to respond to treatment with methotrexate and tumor necrosis factor inhibitors: observations from the Epidemiological Investigation of Rheumatoid Arthritis and the Swedish Rheumatology Register cohorts. Arthritis Rheum 2011; 63(1):26–36.
3. Sociedade Brasileira de Reumatologia, Artrite Reumatoide-Cartilha para pacientes, Comissão de Artrite Reumatoide, 2011.
Fonte: MaxPressNet