Elas não causam mudanças aparentes, não apresentam sinais claros e, muitas vezes, não podem ser identificadas em exames de imagens ou laboratoriais. Essas são algumas das características de 10 doenças “invisíveis” que afetam cerca de um milhão de pessoas no Estado.
São enfermidades como fibromialgia, síndrome que causa dores por todo o corpo; esclerose múltipla; enxaqueca crônica e endometriose (problema que afeta mulheres em idade reprodutiva).
Apesar de não serem vistas, essas doenças costumam causar problemas no trabalho e nos relacionamentos, além de emocionais.
Definida como uma dor muscular crônica e generalizada, sem sinais de inflamação, e que não é detectada em exames, a fibromialgia atormentou por anos a vida da artesã Maria José Parra Marques, 59 anos.
Especialista em dores crônicas, o anestesiologista André Félix, da clínica Relevium, explicou que a fibromialgia é uma doença invisível porque não há exame aceito pela comunidade científica que determine a sua identificação.
“O diagnóstico é por exame clínico, com pacientes respondendo a questionários. Hoje, temos a termografia (exame de imagem), mas ainda não é determinante”, pontua.
Pesquisas apontam que cerca de 2,5% a 3% da população sofrem com a fibromialgia.
Outra dor invisível, mas muito frequente, é a enxaqueca crônica. São 15% da população, inclusive crianças, que sofrem com a doença.
“É uma doença um pouco vulgarizada, menosprezada, mas, na verdade, é complexa e debilitante. O paciente, quando está em crise, não consegue fazer nada. Não dorme, não vê televisão, nem joga futebol ou tem um bom convívio com a família. Mas não aparece em exames e, muitas vezes, é desacreditada”, diz a neurologista Vanessa Loyola Marin, da Rede Meridional.
No caso da esclerose múltipla, os sintomas são difusos e, por isso, difíceis de identificar. O neurologista Daniel Escobar, da Unimed Vitória, cita que o diagnóstico é feito a partir da soma dos sinais ao longo do tempo, conforme o relato do paciente. “Em razão disso, é importante discutir qualquer tipo de sintoma com o médico o quanto antes”.
Saiba mais sobre cada doença
1. Fibromialgia
É uma doença que se caracteriza por dor muscular generalizada, que dura mais que três meses, ou seja, crônica. Apesar disso, não apresenta evidência de inflamação nos locais de dor e não é detectada em exames de imagens e nem laboratoriais.
A causa Ainda não é totalmente esclarecida, mas a principal hipótese é que esses pacientes apresentem uma alteração da percepção da sensação de dor.
Estudos mostram que a fibromialgia atinge cerca de 3% da população e, geralmente, afeta mais mulheres que homens. Aparece entre 30 e 50 anos de idade, embora existam pacientes fora dessa faixa etária.
2. Esclerose múltipla
É uma doença neurológica, crônica e autoimune, ou seja, as células de defesa do organismo atacam o próprio sistema nervoso central, provocando lesões cerebrais.
Tais lesões podem causar sintomas difusos e, até mesmo, passageiros, como fadiga intensa, fraqueza muscular, alteração do equilíbrio da coordenação motora e dores articulares, entre outras.
O diagnóstico é basicamente clínico. Em muitos casos, os exames laboratoriais são insuficientes para definir de imediato se a pessoa tem ou não a doença, já que os sintomas são parecidos com os de outras doenças.
3. Fadiga crônica
A Síndrome da fadiga crônica (SFC) é uma condição cujo principal sintoma é a presença de um cansaço extremo, que pode piorar com a atividade física ou mental, mas não melhora com o repouso.
A fadiga pode ser um sintoma comum a diversas doenças, como infecções, distúrbios endócrinos, respiratórios e mesmo psicológicos. Por isso, o diagnóstico é clínico, ou seja, observado pelo médico, e de exclusão, baseado nos achados da história clínica e do exame físico.
O diagnóstico é mais comum em mulheres entre os 40 e 50 anos. Alguns pacientes podem se recuperar completamente.
4. Depressão atípica
É um tipo específico de depressão, que, apesar do nome, é uma das mais comuns entre a população. É considerada uma doença invisível porque os sinais que apresentam não são típicos da depressão e, por isso, às vezes, nem mesmo o próprio paciente desconfia da patologia.
Esse tipo de depressão apresenta, na maioria das vezes, aumento do apetite, ganho de peso, sonolência excessiva, entre outros sinais.
Também podem ocorrer reação intensa e maior sensibilidade a críticas ou rejeição, o que resulta em comprometimento significativo nas relações sociais e no trabalho.
5. Lúpus
É uma doença inflamatória crônica, de origem autoimune. Os sintomas podem surgir em diversos órgãos, o que dificulta o diagnóstico.
O lúpus pode ocorrer em qualquer tipo de pessoa. Porém, a incidência em mulheres é maior, principalmente entre os 20 e 45 anos.
estimativas indicam que há cerca de 65 mil casos no Brasil, uma incidência de 0,03% da população. No Estado, isso equivale a aproximadamente 1.200 pessoas com a doença.
6. TDAH
O Transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH) é um transtorno neurobiológico e aparece na infância. Frequentemente, acompanha o indivíduo por toda a vida.
Ele se caracteriza por sintomas de desatenção, inquietude e impulsividade. Na fase adulta, os sinais podem se apresentar de forma sutil, não criando alerta para a doença. Estimativas indicam que cerca de 4% da população têm TDAH, o equivalente a 160 mil pessoas no Estado.
7. Endometriose
Endometriose é uma doença inflamatória, provocada por células do endométrio, o tecido que reveste o útero, que, em vez de serem expelidas durante a menstruação, se movimentam no sentido oposto e caem nos ovários ou na cavidade abdominal.
Causa muitas dores durante o período menstrual e também durante as relações sexuais. É uma doença de difícil diagnóstico, através de exames, porque raramente apresenta alterações significativas.
8. Osteoporose
Pode atingir todos os ossos do corpo, fazendo com que fiquem fracos e com possibilidade de quebrarem aos mínimos esforços.
Na maioria das vezes, o problema não apresenta sintomas e nem sinais, sendo identificado apenas com exames. A dor pode acontecer devido a uma fratura, em função da fraqueza dos ossos.
Atinge cerca de 25% das mulheres e 10% dos homens com mais de 50 anos, que são do grupo de risco.
9. Enxaqueca crônica
Dor que ocorre só de um lado da cabeça, com intensidade moderada a intensa, normalmente pulsante, que pode durar horas e até dias.
Apesar de, muitas vezes, ser acompanhada de outros sintomas, não pode ser identificada por exames de imagens. O diagnóstico é feito pelo médico em exames clínicos.
Pesquisas mostram que 15% da população sofre com a doença, que está na lista das mais incapacitantes.
10. Síndrome de Sjögren
É uma doença auto-imune que se caracteriza principalmente pela manifestação de secura ocular e na boca, associadas à presença de autoanticorpos ou sinais de inflamação.
Como os sintomas são semelhantes aos de outras patologias, o diagnóstico é feito por exclusão de outras doenças.
Estudo feito no Estado mostrou incidência de 0,17% da doença na população, o que representa cerca de 7 mil pacientes.
Fonte: Médicos consultados, Sociedade Brasileira de Reumatologia e pesquisa AT/Tribuna Online.