A relação entre médico e paciente foi pauta no Encontro Nacional de Pacientes Reumáticos, realizado em Fortaleza, no Ceará. A reumatologista Wanda Heloisa Ferreira destacou os desafios que podem afetar o tratamento de uma doença reumática por conta de uma relação conflituosa entre médico e paciente. A principal consequência é a não adesão ao tratamento: muitas vezes o paciente não segue com o tratamento pela falta de confiança ou de informações. A solução pode ser mais simples do que se imagina: com uma comunicação transparente, decisões compartilhadas e uma equipe multidisciplinar a realidade pode melhorar.
“A comunicação entre médico e paciente é extremamente importante e está intimamente ligada à adesão dele ao tratamento”, reforça Dra. Wanda. De acordo com ela, o risco de não adesão ao tratamento correto incide em cerca de 19% em todas as doenças crônicas, de uma maneira geral. “Hoje o paciente é peça ativa na conduta da sua doença, ele precisa ter essa participação e discernimento. A única forma disso é melhorar a comunicação e aumentar a participação do paciente”, reforçou Dra. Wanda destacando também a importância de envolver a família no processo.
Decisão compartilhada melhora a relação médico-paciente
Uma das mudanças que devem acontecer segundo a palestrante é a relação entre médico e paciente, que deve se dar de igual para igual, e não mais uma relação de autoridade. “O paciente normalmente já chega com várias informações, de todos os tipos possíveis: informações que vem desde os familiares, das comadres, da internet, do WhatsApp. Ele já chega com a cabeça quente. O que nós temos hoje é um modelo muito interessante, onde médico e paciente estão no mesmo plano”, destaca a reumatologista.
A decisão compartilhada é a solução para a situação. Assim, o profissional pensa nos exames, no diagnóstico, no tratamento e também nos riscos e nos benefícios. Dessa forma, ele analisa e toma a decisão junto com o paciente, pensando no que é melhor para aquele indivíduo. “Duas pessoas podem ter o mesmo diagnóstico, mas são diferentes e as doenças se comportam também de forma diferente em cada indivíduo”, explica Dra. Wanda.
Para isso, é necessário que haja tempo. “Algo raro hoje em dia na relação médico-paciente é tempo. O tempo é relativo, o paciente pode ficar satisfeito em 5 minutos, 15, 20 minutos, ou meia hora. O importante é que ele não saia da consulta com dúvidas. Mais do que um conceito de tomada de decisão, do que um processo de tomada de decisão, a decisão compartilhada é uma mudança de comportamento”, reforça a especialista.
Confiança deve ser estimulada
Além de uma boa comunicação com tomada de decisão compartilhada, a relação deve ser de confiança. Apesar de o profissional da saúde trabalhar com uma zona de incerteza, ele deve ser honesto com o paciente. “Nem sempre nós temos evidência de tudo. Muitas vezes o profissional propõe um esquema de tratamento para o paciente, seja medicamentoso ou não, mas não tem certeza se aquilo vai dar certo”, diz. Na avaliação da médica, o compartilhamento dessa incerteza também é importante.
Em suma, quando o paciente tem literacia, ou seja, conhecimento em saúde, não só a adesão ao tratamento melhora, como o número de hospitalizações diminuem. “O fármaco mais utilizado e menos conhecido na prática médica é o próprio médico. Transformem o médico de vocês no melhor remédio que vocês possam ter”, finalizou Dra. Wanda.