Infelizmente, muita controvérsia foi gerada em torno da melhor estratégia no combate deste inimigo poderoso que invadiu nosso planeta e nosso país, agrediu o organismo de mais de 10 milhões de pessoas no mundo todo, 1,5 milhão de brasileiros e a mente de 7 bilhões de pessoas.
Desentendimentos políticos infundados com discussões que deveriam pertencer exclusivamente ao campo da ciência tomaram conta de nosso país.
Sobre considerações de melhores estratégias de isolamento, embora possam ser entendidos as diferenças de opiniões, pois repercutem diretamente na economia, vá lá. Mas sobre medicamentos? Isso pertence ao campo das ciências e da medicina, exclusivamente.
Se médicos discordarem, como é o caso neste momento, é bastante aceitável, dado o ineditismo do momento e da doença, falta de trabalhos científicos randomizados e comparativos. Mas são eles, e somente eles, que devem decidir sobre medicações.
Nem mesmo suas entidades de classe possuem essa capacidade, visto que é prerrogativa e responsabilidade do seu médico a medicação que lhe prescreve. Portanto, tenho dito para que no caso de contaminação por esse vírus, você deve conversar e decidir o que vai tomar com seu médico de escolha, e não com seu politico de escolha.
Assim, aqui a ideia não é opinar sobre o uso da cloroquina ou ivermectina, embora tenha minhas convicções pessoais, mas de demonstrar nossa experiência com um outro tratamento, para uma outra fase da doença, que a nosso ver é bastante promissor.
Cabe antes disso algumas considerações.
Aprendemos que os mecanismos de complicação da infecção pelo coronavírus se devem basicamente a intensidade da carga viral a que o indivíduo é exposto e ao que se chama de hiperativação do sistema imunológico.
Este último expresso por uma ativação exacerbada (chamada de tempestade) da chamada cascata de citocinas. Citocinas são proteínas que regulam a resposta imunológica.
A tempestade de citocina é uma resposta imunológica excessiva e tem sido apontada como uma das causas da síndrome respiratória e da falência múltipla de órgãos que ocorre nos casos de infecção pelo coronavírus.
Defendemos em nosso ponto de vista o uso dos medicamentos como a cloroquina e ivermectina, visto que pelo menos sob o ponto de vista teórico (o que se reflete em nossa observação clinica), eles diminuem essa carga viral por inúmeros mecanismos e, portanto, devem ser usados exclusivamente na fase mais precoce da contaminação.
Mas e depois? Em uma fase mais avançada da infecção? Onde o paciente já apresenta sinais de grave inflamação/infecção, com comprometimento respiratório e sinais de falência desse sistema?
Inúmeros são os relatos na literatura de uma droga chamada tocilizumabe, um anticorpo (chamado monoclonal, ou seja, sempre o mesmo anticorpo produzido, onde evolui resposta a um agente patogênico) utilizada nos pacientes graves acometidos pelo coronavírus.
Já conhecida pela medicina, a droga é usada amplamente nos casos de artrite reumatoide de tratamento refratário a outras drogas. O princípio de sua ação na infecção por Sars-CoV-2 seria impedir a deflagração da cascata de citocinas pré-inflamatórias associadas aos quadros graves.
Com base neste princípio, utilizamos, no Hospital Igesp, em São Paulo, o tocilizumabe em 14 pacientes com quadro de grave comprometimento respiratório, sendo que em 11 casos esses pacientes já se encontravam intubados e não apresentavam quadro de melhora clinica.
Os outros três pacientes estavam em fase de pré-intubação, pois necessitavam de altas doses de oxigênio.
Todos eram portadores de comorbidades, dentre elas, obesidade, doenças pulmonares e cardíacas prévias.
No grupo dos pacientes que não havia ainda sido intubado todos, tiveram evolução bastante favorável e a assistência com ventilador foi evitada.
No grupo dos 11 pacientes já intubados que receberam a droga, 10 se recuperaram plenamente e um deles infelizmente não obteve melhora e evoluiu para óbito.
Considerando que a mortalidade hospitalar dos pacientes intubados por essa doença é em torno de 40%, vimos um bom resultado. Cabe ressaltar que obviamente todos os pacientes receberam outras terapias associadas consideradas adequadas para cada caso.
Embora os resultados sejam bastante animadores, deve-se lembrar que trata-se de uma amostragem pequena e sem grupo controle, o que não julgamos pertinente para o momento.
A ideia aqui é apresentar mais um tratamento promissor para esse difícil momento, em que a evolução satisfatória de pacientes tão graves nos dá fôlego e ânimo para continuarmos em frente.