Pouco se sabe sobre a síndrome ASIA e a doença do silicone, há quem, inclusive, sequer já ouviu falar sobre essas patologias. Por isso, informação é muito importante para combater notícias falsas e, também, conhecimentos errôneos acerca do acometimento, diagnóstico e tratamento dessas enfermidades.
No último ano, pesquisas no Google sobre as doenças cresceram 350%. Relacionadas a elas, buscas sobre explante de silicone apresentaram aumento de 170%. Por serem patologias novas, a síndrome ASIA e a chamada doença do silicone têm sido objeto de fake news, o que tem alarmado, gerado ansiedade e, muitas vezes, a busca por procedimentos cirúrgicos como medida preventiva, baseada em fatos sem fonte científica.
Não à toa, a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP) e a Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR) se uniram para “derrubar” alguns mitos e reforçar as verdades sobre a temática. A primeira “confusão” em torno das enfermidades se dá no fato de que muitos acreditam que a síndrome ASIA e a doença do silicone são a mesma coisa. E não são. É o que declara Marcela Cammarota, cirurgiã plástica e diretora de comunicação da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica.
“A síndrome ASIA (síndrome autoimune-inflamatória induzida por adjuvante) consiste no desenvolvimento de doenças autoimunes em indivíduos geneticamente predispostos como resultado de exposição a adjuvantes – substâncias estranhas ao organismo que provocam reação imunológica. Essas substâncias já foram descritas há alguns anos e algumas delas são: fragmentos infecciosos, hormônios, alumínio e recentemente vem se destacando o escaleno, óleo obtido de tecido de tubarão e usado nas vacinas anti-influenza disponíveis no país.”
Apesar de ser uma condição rara, conforme elucidado pela médica, o silicone também tem sido considerado uma dessa substâncias, podendo desencadear reação imunológica e manifestações semelhantes a de algumas doenças reumáticas. A presença de autoanticorpos contra o silicone e alguns HLA (antígeno leucocitário humano) específicos, responsáveis por apresentar os antígenos ao sistema imune, podem indicar o desenvolvimento da doença.
Por se tratar de um quadro recém-descrito, a associação entre o silicone e o desenvolvimento de sintomas que simulam doenças imunológicas ainda está em estudo para averiguar a relação causal. A Organização Mundial de Saúde (OMS), inclusive, ainda não reconhece esse termo como uma doença real.
“Enquanto isso, a doença do silicone é um termo atribuído pelas próprias pacientes para descrever um conjunto de sintomas que elas atribuem ao uso do implante, também conhecido no inglês por Breast Implant Illness (BIIs). Porém, não há exames que comprovem a doença, haja vista que os testes imunológicos são negativos, o que dificulta a diferenciação com sintomas habituais decorrentes do estresse, por exemplo”, relata Marcela Cammarota.
Outro forte mito no que tange as patologias é que não há “má vontade” em reconhecer ou em estudar a doença. “Muitas vezes, dizem que médicos negligenciam a existência da doença do silicone, porém, o que ocorre é que a medicina é uma ciência que precisa de estudos com evidências estatísticas claras para assumir algo como fato. Depoimentos emotivos em redes sociais podem ter um poder de convencimento e abrangência maior que a ciência, mas isso não elimina a necessidade de continuarmos estudando e fazendo diagnósticos corretos.”
Sintomas
Quanto aos sinais dados pelo corpo em relação à síndrome ASIA, pode haver a ocorrência de fadiga crônica, dores articulares e musculares, boca e olho seco e algumas manifestações neurológicas. Já no caso da doença do silicone, os sintomas podem ser bem variados, desde dor de cabeça e insônia até o mau funcionamento intestinal, dores articulares, queda de cabelo, afecções da pele e depressão.
Uma verdade nesse cenário é: sim, há fatores de risco. Na síndrome autoimune-inflamatória induzida por adjuvante, a predisposição a doenças imunológicas e história familiar são pontos de atenção para o acometimento do organismo pela doença. No caso da doença do silicone, o uso de prótese é o grande fator de risco.
Nesse cenário, os maiores danos causados pelas patologias no corpo humano têm relação com os sintomas, uma vez que eles impactam diretamente na qualidade de vida, vida social e familiar das pacientes.
Tratamento
Haja vista a síndrome ASIA ser uma doença imunológica, o tratamento é semelhante às patologias desse tipo com uso de imunossupressores. E, mesmo com a prótese de silicone podendo ser a causadora da enfermidade, é verdade que nem sempre a retirada é indicada, o que se diferencia, também, do procedimento adotado nos quadros da chamada doença do silicone.
“As pacientes determinaram que a realização do explante – retirada da prótese de silicone – soluciona o problema, mas os trabalhos em andamento que acompanham pacientes submetidas ao explante ainda apresentam resultados divergentes sobre a melhora dos sintomas após a retirada da prótese. É necessário mais algum tempo de estudo para se ter conclusões fidedignas”, afirma Marcela Cammarota.
Mais uma verdade em torno da síndrome ASIA é que, em alguns casos, é possível evitar sim a incidência da doença, uma vez que as patologias imunológicas são multifatoriais. “Recomendamos uma investigação da história médica do paciente e de sua família acerca de doenças imunológicas antes da colocação de implantes de silicone”, indica a cirurgiã plástica.
Já na Doença do Silicone, a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP) afirma que a escolha da prótese adequada é fundamental para a segurança do procedimento, sempre mantendo a atenção para a aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e para o prazo de validade e registro do produto.
Em debate
Para além da campanha de conscientização a respeito dos mitos e verdades que cercam essas doenças, a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP) e a Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR) promoverão uma live educativa no próximo dia 6 de abril, a fim de informar a população e tirar dúvidas.
Durante o evento, o presidente da SBCP, Dênis Calazans, e o presidente da SBR, Ricardo Machado Xavier, responderão dúvidas de participantes sobre os mitos e verdades, e sobre o que se entende das patologias, e demais temas relacionados, como o explante mamário. Além dos especialistas, a live contará com participações especiais e terá transmissão nas redes sociais – Facebook e Instagram – das sociedades.
“A Campanha Mitos e Verdades visa esclarecer todas as dúvidas baseadas em evidências científicas e pesquisas médicas realizadas nos últimos anos”, explica Dênis Calazans, presidente da SBCP. De maneira viva e interativa, a campanha apresenta conteúdos sobre sintomas, diagnósticos e tratamentos para a síndrome e traz vídeos de especialistas sobre a doença e um e-book didático para ser compartilhado. Acesse-o no site oficial da SBCP.
Fonte: Estado de Minas.