A medida ocorre diante do desabastecimento desta substância em todas as regiões do país devido ao uso em pacientes leves de Covid-19, mesmo sem evidência de eficácia
O Conselho Nacional de Saúde (CNS) recomendou, nesta sexta-feira (21/08), que o Ministério da Saúde garanta às secretarias estaduais e municipais de saúde o abastecimento adequado de cloroquina e hidroxicloroquina para pacientes com doenças crônicas e patologias que fazem uso contínuo destes medicamentos.
A medida ocorre diante do desabastecimento destas substâncias em todas as regiões do país, conforme relatos apresentados pelas entidades que compõem o CNS e denúncias públicas em diversos meios de comunicação. Entre os pacientes que precisam da cloroquina ou hidroxicloroquina de forma contínua, estão pessoas com Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES), Lúpus Cutâneo, Artrite Reumatoide, Síndrome de Sjögren, alguns casos de Osteoartrite de Mãos e doenças que provocam sensibilidade dos olhos à luz.
O documento do CNS considera que as recomendações do Ministério da Saúde sobre o uso da cloroquina e hidroxicloroquina, associadas a outros medicamentos, para pacientes que apresentam sintomas da Covid-19 em qualquer fase da doença, agravaram o desabastecimento e prejudicaram as pessoas que precisam destes remédios para seus tratamentos.
Segundo pesquisa realizada pela BioRede Brasil Medicamentos Biotecnológicos, apresentada em live promovida pelo Comitê do CNS de acompanhamento da Covid-19, 95% dos pacientes reumáticos utilizam a Hidroxicloroquina. Antes da pandemia, 65% dessas pessoas nunca tiveram dificuldade para comprar o medicamento. Hoje, 84% não encontram o remédio com facilidade.
A pesquisa também destaca o impacto financeiro causado pelo desabastecimento da medicação sobre a renda familiar: enquanto o gasto médio antes da pandemia era de R$ 100, hoje os custos mensais com a hidroxicloroquina chegam a aproximadamente R$ 450.
“Desde que foi divulgado o mito que a cloroquina e seus derivados seria a alternativa para combater a pandemia, nós, pacientes reumáticos, estamos enfrentando um dilema de onde encontrar o medicamento tão necessário para a continuidade ao tratamento de doenças crônicas”, afirmou a conselheira nacional de saúde Ana Lúcia da Silva Marçal, que representa a Associação Brasileira Superando o Lúpus, Doenças Reumáticas e Raras no CNS. “Para nós, este medicamento é uma opção segura, comprovada cientificamente e com preço que conseguíamos pagar”, completou.
Em maio, o CNS já havia pedido que o MS e Ministério Público federal (MPF) suspendessem as indicações de uso da cloroquina e hidroxicloroquina no tratamento de pacientes com sintomas leves da Covid-19, uma vez que não há evidências científicas que comprovem a eficácia destes medicamentos para o tratamento.
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Foto: Narinder Nanu/ AFP
Ascom CNS