Cientistas e pesquisadores do Brasil e do mundo estão empenhados em encontrar medicamentos e vacinas para combater a Covid-19, que é a doença causada pelo novo coronavírus. No entanto, até o momento, não há nenhum fármaco com eficácia comprovada para prevenção ou tratamento. Mesmo assim, o Ministério da Saúde (MS) incluiu, nesta semana, a “indicação de uso” da cloroquina/hidroxicloroquina no tratamento de pacientes com sintomas leves da Covid-19. Preocupado com a segurança desses pacientes, o Conselho Nacional de Saúde (CNS) pediu, nesta sexta (22/05), a suspensão imediata desta orientação.
A manifestação ocorreu por meio da recomendação nº 042 endereçada ao MS e ao Ministério Público Federal (MPF). O documento recomenda a suspensão das orientações para a utilização do medicamento para tratar sintomas leves da Covid-19. Também pede que o “governo federal desempenhe seu papel na defesa da ciência e a redução da dependência de equipamentos e insumos, construindo uma ampla e robusta produção nacional”. Ao órgão fiscalizador, a recomendação pede providências para que a indicação seja suspensa, pelos riscos à saúde da população brasileira.
No documento, o CNS justifica que as orientações do MS não se baseiam em evidências científicas, pelo contrário, relaciona referências de estudos já criticados pela comunidade científica e não cita estudos e artigos atuais. “O uso da cloroquina, sem comprovação da eficácia, coloca em risco a vida de milhares de pessoas. As orientações desrespeitam a ciência porque inexistem estudos que indiquem eficácia do uso de cloroquina para sintomas leves”, explica a conselheira nacional de Saúde Débora Melecchi, representante da Federação Nacional dos Farmacêuticos (Fenafar).
A conselheira ressalta que “o que de fato vem sendo demonstrado são os efeitos indesejáveis, incluindo problemas cardíacos”. Sobre isso, a recomendação cita o Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos (NIH) que, no dia 21 de abril, divulgou um documento contrário ao uso da cloroquina, em especial, a hidroxicloroquina, associada a azitromicina. Os severos efeitos colaterais apontados incluem episódios de arritmia cardíaca e envenenamento.
A recomendação do CNS também baseia-se nas diretrizes de entidades médicas, como a Sociedade Brasileira de Infectologia, a Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia e Associação de Medicina Intensiva Brasileira, que emitiram um comunicado, no dia 18 de maio, contraindicando a cloroquina e a hidroxicloroquina (e outros remédios experimentais) em qualquer estágio da Covid-19.
Alertas constantes
Desde o início da pandemia, o CNS tem alertado que é preciso garantir a racionalidade das decisões, a partir do conhecimento científico, sem expor a população a condições de maior vulnerabilidade. Frente a isso, tem se manifestado por meio de notas, matérias, artigos e outras recomendações. Como é o caso da Nota Pública divulgada junto à recomendação nº 042, posicionando-se contrária ao documento do Ministério da Saúde e elencando os riscos do uso da cloroquina e da hidroxicloroquina no tratamento da Covid-19.
“A possibilidade do desenvolvimento de efeitos colaterais graves, decorrentes do uso de Cloroquina ou de Hidroxicloroquina em pacientes leves, pode exigir uma internação que poderia não acontecer sem o uso desses medicamentos, acarretando a necessidade de mais leitos hospitalares”, aponta um dos itens da Nota que pode ser acessada na íntegra, clicando aqui.
CONFIRA ABAIXO A RECOMENDAÇÃO 042 NA ÍNTEGRA
Fonte: Conselho Nacional de Saúde.