Pesquisadores da Universidade do Arizona (EUA) descobriram que a prolactina pode explicar por que as mulheres sentem mais dor do que os homens. O estudo, publicado no dia 5 de fevereiro no periódico Science Translational Medicine, sugerem que novas terapias direcionadas ao sistema desse hormônio seriam mais úteis às mulheres que sofrem com dores.
Segundo Frank Porreca, um dos autores, a ciência mostra que as mulheres sempre sentiram mais do que os homens alguns tipos de dores que não têm explicações, ou melhor, dores que existem sem que a pessoa tenha algum tipo de lesão, como as enxaquecas.
“De todos esses distúrbios de dor prevalentes em mulheres, as enxaquecas estão entre as mais comuns”, diz Porreca. “São cerca de 35 milhões de pacientes com enxaqueca nos Estados Unidos, por exemplo, e três em cada quatro são mulheres. Além disso, em pacientes com fibromialgia, nove em cada 10 são mulheres; para a síndrome do intestino irritável, três em cada quatro são mulheres. Quando você soma todas essas mulheres com dor, isso proporcionaria um impacto enorme e importante nos cuidados médicos”, alerta o professor de farmacologia.
As razões para isso nunca foram claramente entendidas, mas uma possível explicação são as diferenças nas células e nos nervos que enviam sinais de dor ao cérebro em ambos os sexos.
Conhecida principalmente por promover a lactação em mulheres grávidas, a prolactina também se eleva com o estresse, o uso de tranquilizantes, antidepressivos, anti-hipertensivos e narcóticos. Mas os cientistas do presente estudo repararam que, no caso do estresse, por exemplo, ele libera prolactina e inesperadamente promove a dor seletivamente em mulheres.
A partir dessa percepção, eles testaram diversas formas de limitar a liberação de prolactina em camundongos fêmeas. Descobriu-se, então, que medicamentos agonistas (que causam ação) da dopamina, neurotransmissor relacionado ao prazer, como cabergolina ou bromocriptina, limitam a prolactina e podem ajudar a tratar essas condições de dor em mulheres de maneira mais eficaz, sem as propriedades viciantes dos opioides, muito usados nos Estados Unidos.
Quando se trata de opioides para o tratamento da dor, alguns usuários (principalmente mulheres) relatam sentir um aumento no incômodo após tomar o medicamento, uma condição conhecida como hiperalgesia induzida por opioides. Novas terapias com agonistas da dopamina, portanto, evitariam casos como esses.
“Se pudéssemos reduzir a proporção de mulheres com enxaqueca para a mesma quantidade que nos homens, isso seria bastante revolucionário”, diz Edita Navratilova, também autora do estudo.
Além dos medicamentos, uma segunda abordagem terapêutica ainda levantou a hipótese de incluir anticorpos direcionados para a prolactina. “As terapias gênicas in vivo são cada vez mais comuns na medicina e poderia ser usado para editar o mecanismo por trás da liberação desse hormônio”, escreveram os cientistas.
Em um comunicado à imprensa, a Universidade do Arizona disse que, após a publicação da pesquisa, Porreca foi contatado por empresas interessadas em investigar se um anticorpo previamente associado ao tratamento do câncer de mama pode ser projetado como uma terapia para se proteger da dor nas mulheres.
Fonte: Uol.