Procura pela hidroxicloroquina aumentou no Amapá depois de estudos em outros países. No Brasil, remédio é usado por quem tem lúpus e está em falta nas prateleiras.
Pacientes com lúpus – doença crônica e autoimune – no Amapá estão com uma campanha nas redes sociais cobrando o fornecimento do medicamento hidroxicloroquina nas farmácias. Segundo eles, o remédio não é mais encontrado nas prateleiras após ser apontado como possível tratamento da Covid-19 há cerca de um mês na China e outros países.
Através de vídeos, os pacientes com lúpus relatam sobre a importância dos estabelecimentos estarem com o remédio em estoque.
A eficácia do medicamento para os casos de Covid-19 ainda está sendo testada pelos cientistas. O Ministério da Saúde (MS) autorizou o uso somente em casos extremos do novo coronavírus, mas não recomenda a automedicação.
Para evitar esse desabastecimento nos estoques das farmácias, o governo federal também determinou que o remédio só seja vendido com apresentação de receita médica. Mesmo assim, está raro encontrar nos estabelecimentos.
Segundo a representante da Associação de Amigos e Pessoas com Lúpus no Amapá (Aaplap), Jéssica Pastana, de 29 anos, a hidroxicloroquina é um dos medicamentos essenciais no tratamento de lúpus, trazendo sérias complicações aos pacientes quando ocorre a falta.
“Ele [o remédio] não deixa que a doença fique ativa, porque a gente tenta deixar o lúpus adormecido. Estou tomando só metade de um comprimido dia sim e dia não, quando o ideal seria tomar um inteiro diariamente. No meu caso, a lúpus vem junto com a fibromialgia que está começando a piorar”, detalhou a estudante, que convive há 6 anos com a doença.
Ainda de acordo com a associação, a hidroxicloroquina não é fornecida pela rede pública de saúde há cerca de um ano e meio.
A Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) justificou que o medicamento está com grande procura no mercado nacional e internacional por conta da pandemia, mas que está com um licitação em andamento.
“A Sesa ressalta ainda que no fim do ano de 2019 já havia lançado o primeiro processo licitatório para adquirir o medicamento, mas não obteve fornecedores interessados na venda”, diz a pasta.
A Aaplap estima que sejam 600 pessoas diagnosticadas com a doença no Amapá. Uma delas é autônoma Fabíola Paes, de 39 anos, que há uma década realiza tratamento contra a lúpus. Mãe de um menino de 11 anos e com marido mototaxista, ela admite o medo de não ter o remédio.
“Tive uma caixa da hidroxicloroquina doada com 30 comprimidos, mas quando acabar não sei o que fazer. Quando não tive o remédio tive crises sérias com falta de ar, meu corpo começa a inchar, as articulações doem, pode até paralisar os rins…”, relatou Fabíola.
Uma alternativa pensada por Fabíola é providenciar o medicamento numa farmácia de manipulação, mas o preço caro do produto, após a alta procura devido à pandemia do novo coronavírus, a assusta.
“Se não tiver na farmácia a gente tem que mandar manipular. E como tá uma procura muito grande, de R$ 69 passou para R$ 180, uma diferença muito alta. Se tivesse o governo para fornecer, como é a obrigação, tudo ficaria mais fácil”, lamentou a autônoma.
Pensando em ajudar os pacientes com lúpus no Amapá, a Aaplap está recebendo cestas básicas destinadas aos associados em função da maioria estar desempregada e vivendo na informalidade.
O interessado na campanha pode entrar em contato com a associação por meio do telefone (96) 99173-4927.
• Lúpus
É uma doença crônica, que se caracteriza por atingir a pele, as articulações, os rins, pulmões e o sistema nervoso. Os pacientes apresentam inflamações nas articulações, manchas na pele exposta ao sol, febre e cansaço.
A doença é autoimune e acontece quando o sistema imunológico ataca tecidos saudáveis do corpo por engano. Ela não tem cura, mas o tratamento pode ajudar, melhorando a qualidade de vida com o controle dos sintomas e crises.
Fonte: G1 Amapá