Estudo canadense mostra que pessoas com a doença morrem mais cedo do que a população em geral
Um estudo realizado por pesquisadores da Universidade de Toronto, no Canadá, concluiu que pessoas com artrite reumatoide (AR) morrem mais cedo do que a população saudável. Porém, em vez de gerar mais preocupação, o intuito é alertar médicos e pacientes sobre a importância do diagnóstico precoce e a necessidade de cuidados mais completos com quem tem a doença.
Sem causas definidas, a artrite reumatoide é autoimune, crônica e afeta as articulações, principalmente das mãos e dos pés. Com incidência maior em mulheres, tende a se manifestar entre os 30 e os 50 anos de idade. Os especialistas ressaltam que, embora não tenha cura, é possível tratar e ter uma qualidade de vida melhor.
“A artrite reumatoide é uma doença sistêmica, não se restringe somente às articulações, mas atinge também órgãos internos, como pulmão e coração”, diz Fernando Neubarth, ex-presidente da Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR). A disseminação para outros órgãos deve-se, em parte, à própria característica inflamatória da AR e aos medicamentos utilizados no tratamento quando usados em doses altas e por muito tempo.
O estudo canadense comparou 87 mil pessoas diagnosticadas com a doença com 340 mil indivíduos da população saudável, todas da cidade de Ontário, ao longo de 13 anos. No período, 14% das pessoas com artrite reumatoide morreram enquanto a mortalidade foi de 9% no segundo grupo.
As causas de morte entre todos os participantes do estudo foram parecidas: problemas cardiovasculares, respiratórios e câncer. Porém, aqueles com AR perdiam, aproximadamente, o dobro de anos de vida do que os que não tinham a doença, antes dos 75 anos.
“Devido à inflamação, o paciente tem maior probabilidade de ter aumento do colesterol e de triglicérides, aumento da pressão por uso de anti-inflamatório e diabetes devido aos corticoides”, explica Flora Marcolino, coordenadora do Núcleo Avançado de Reumatologia do Hospital Sírio Libanês e médica reumatologista do Hospital Emílio Ribas. Todos esses fatores são de risco para o desenvolvimento de doenças do coração.
No caso dos problemas respiratórios, a especialista diz que o tratamento com imunossupressores compromete a imunidade e, por isso, as chances de uma pneumonia ou mesmo de uma gripe mais forte são mais altas em pessoas com AR. O câncer pulmonar também é mais provável de ocorrer, e pacientes fumantes são orientados a abandonar o hábito.
Sintomas. Além de comprometer as articulações das mãos e dos pés, a AR pode afetar joelhos, cotovelos e ombros. Essas regiões podem doer, inchar e ficar quentes. Segundo o ex-presidente da SBR, a doença pode se apresentar de forma simétrica, ou seja, nas duas mãos, nos dois pés e nos dois joelhos.
Junto a isso, pode ainda dar sensação de fadiga, febre, e a pessoa pode ter dificuldade para se levantar ou se movimentar. Neubarth alerta que dor e inflamação por mais de seis semanas nas articulações já caracteriza a doença e deve-se procurar um reumatologista.
Mas além das consequências físicas, a enfermidade tem forte impacto na rotina do paciente. “Todas as doenças crônicas têm repercussão do estado psíquico da pessoa, que pode ter dificuldade de fazer certas coisas, se deprimir, baixa autoestima, dificuldade de relacionamento – seja familiar, social ou no trabalho”, afirma Neubarth. “Isso reforça a ideia de que o médico tem de ter uma visão global do paciente, não restrita às articulações.”
Esse também foi o alerta de Jessica Widdifield, pesquisadora que liderou o estudo feito no Canadá. “Mortalidade é um dos fortes marcadores para avaliar o cuidado inadequado, então, se os pacientes estão morrendo mais cedo, há uma lacuna na saúde que precisa ser enfrentada”, disse. “O excesso de mortalidade relacionada à artrite reumatoide sugere atenção inadequada para controle da doença”, acrescentou.
Para avaliar os impactos da AR além dos fatores físicos, a farmacêutica Eli Lilly criou uma pesquisa internacional que, agora, pode ser respondida por pacientes brasileiros. O objetivo é entender o impacto real da doença, com destaque para quatro aspectos fundamentais: trabalho, relacionamentos, atividades e aspirações.
Denominada A Artrite Reumatoide Importa, a pesquisa pode ser respondida por pacientes ou médicos e está disponível até o dia 30 de abril por meio deste link. Estima-se que a doença atinja cerca de 2 milhões de pessoas no Brasil.
Boa notícia. Artrite reumatoide tem tratamento, existem medicações com menos efeitos adversos e é possível viver com melhor qualidade de vida, desde que a pessoa siga também as orientações do médico.
Os resultados dos anti-inflamatórios, corticoides e imunossupressores devem ser avaliados entre profissional e paciente para evitar que outras doenças surjam. As medicações biológicas, feitas com células vivas, são as mais eficazes e que causam pouco ou nenhum efeito adverso.
Porém, há uma condição. “Biológicos são usados depois que os tratamentos convencionais falham após seis meses de uso. Não se espera muito tempo pelo fato de a doença ser agressiva e causar dano articular permanente”, diz Flora.
Caso o paciente tenha tuberculose, hepatite ou aids, por exemplo, a médica afirma que é preciso fazer uma triagem e redobrar o cuidado antes de iniciar o tratamento com os biológicos. Esses medicamentos biológicos são, geralmente, importados e custam caro – oito dessas medicações, que são prescritas para AR, estão disponíveis em farmácias de alto custo.
Aos primeiros sinais da doença, os especialistas recomendam consultar diretamente um reumatologista. Isso facilita o diagnóstico precoce e evita maiores sequelas e complicações que podem impactar a vida como um todo.