Sentir dor não é normal, mas para muitas pessoas tornou-se uma condição diária, até mesmo ao receber um simples carinho. A fibromialgia, cujo Dia Mundial para conscientização é celebrado hoje, é considerada uma síndrome dolorosa crônica, de etiologia desconhecida.
Acredita-se, porém, que a dor seja uma resposta para a amplificação de impulsos no sistema nervoso central. Estudos mostram que fatores genéticos, hormonais e ambientais (frio e umidade), infecções, microtraumas, sedentarismo, ansiedade e depressão podem desencadear ou piorar seus sintomas, como dores em diversas regiões do corpo (especialmente nos tendões e nas articulações), cefaleia, cansaço significativo, dormência nos membros, sono não reparador, distúrbios de atenção e memória e transtornos de humor.
“Não é uma doença psicológica, mas, sim, agravada também por problemas psicológicos. Fica difícil saber o que vem primeiro. Estresse psíquico pode levar à insônia e à dor crônica e vice-versa. As duas coisas fazem parte de um ciclo”, destaca Elisete Funes, médica assistente do serviço de reumatologia da Faculdade de Medicina de Rio Preto (Famerp).
Falta consenso sobre o número de pessoas que sofrem desse mal no Brasil, mas sabe-se que homens e mulheres, de qualquer idade, podem apresentar o quadro, principalmente o público feminino, depois da menopausa. No ano passado, o Instituto Harris Interactive realizou e divulgou a pesquisa “Fibromialgia: Além da Dor”, a pedido da Pfizer.
Foram entrevistadas 904 pessoas do Brasil, do México e da Venezuela, dos quais 604 clínicos gerais e especialistas, como reumatologistas, neurologistas e psiquiatras, e 300 pacientes. Entre as constatações, descobriu-se que 70% dos brasileiros nunca tinham ouvido falar em fibromialgia antes de receber o diagnóstico e que a maioria dos pacientes demora mais de dois anos para procurar tratamento, por imaginar, especialmente, que o incômodo poderia desaparecer sozinho.
Além disso, as pessoas costumam peregrinar por sete médicos, em média, até descobrir o problema, o que demora quase cinco anos. Não há radiografia, ressonância ou exame de sangue que revele sua existência. Na década de 1990, o Colégio Americano de Reumatologia definiu 18 pontos de dor para auxiliar os profissionais de saúde a classificar o paciente como portador de fibromialgia (veja a figura nesta página).
Em 2010, um grupo da mesma entidade formulou novos critérios a fim de facilitar o diagnóstico clínico, que estão em processo de validação. “É relativamente difícil diagnosticá-la, devido à ausência de características específicas dessa condição e à possibilidade de se confundir com várias doenças”, explica o reumatologista e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Luis Roimicher.
Entre as doenças com sintomas semelhantes estão o hipotireoidismo (distúrbio da glândula tireoide, que diminui ou impede a produção de hormônios capazes de estimular o metabolismo), a artrite reumatoide (doença inflamatória, caracterizada por inflamação crônica nas articulações, causada por disfun-ção do sistema imunológi-co), o lúpus (doença autoimune, que provoca manifestações clínicas variadas) e a síndrome de Sjögren (doença autoimune, que inibe a produção de saliva e lágrimas).
“Uma supervalorização dos exames complementares pode criar ainda mais confusão na hora de identificar e tratar a síndrome. Uma boa apuração do histórico do paciente e um exame físico cauteloso são mais úteis para o diagnóstico correto. Nesse caso, o papel do paciente é fundamental”, alerta Roimicher.
Remédios e exercícios
Ainda não existe uma solução definitiva para a síndrome. De acordo com o chefe do Ambulatório de Fibromialgia do Hospital das Clínicas da Universidade Federal do Paraná, de Curitiba (PR), Eduardo Paiva, o tratamento ortomolecular, que promete curar a fibromialgia, não é baseado em evidências científicas e, portanto, não é reconhecido pelo Conselho Federal de Medicina.
“Infelizmente, não existe uma cura para a fibromialgia. A medicina séria não esconderia esse fato do público, e, sim, trabalharia para ampliar o acesso ao tratamento para todos os pacientes, inclusive pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e gratuitamente”, publicou ele, no portal “Fibromologia”.
Por outro lado, é possível melhorar a qualidade de vida nos âmbitos pessoal, social e profissional. Existem tratamentos medicamentosos que ajudam a controlar os sintomas, como analgésicos, relaxantes musculares, antidepressivos e neuromoduladores. A prática de atividades físicas leves, a exemplo da caminhada, do pilates, da hidroginástica e da natação, também é ótima aliada.
“Os exercícios melhoram o condicionamento físico e a resistência muscular, além de liberar endorfina, que amplia a sensação de bem-estar”, diz Elisete. É válido lembrar que cada caso tem suas peculiaridades e o tratamento adequado deve ser recomendado por um profissional da área. “A fibromialgia não é incapacitante. Tudo é uma questão de mudança de estilo de vida, com acompanhamento médico”, conclui Roimicher.
Fonte: http://www.diarioweb.com.br/novoportal/Noticias/Saude+Sustentavel/93766,,Hoje+e+o+Dia+Mundial+da+Fibromialgia.aspx