Hipertensão Pulmonar é uma patologia grave que afeta mais de 25 milhões de pessoas em todo o mundo. O seu diagnóstico compromete atividades simples, como falar, andar ou subir escadas. Um dos principais problemas relativos a esta doença está relacionado com a sua detecção, já que o atraso no prognóstico e consequente atraso do tratamento influenciam a elevada mortalidade dos doentes.
A propósito do Dia Mundial da Hipertensão Pulmonar, que se assinalou no dia 5 de maio, o Lifestyle ao Minuto falou com o médico cardiologista no Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte (CHULN) Rui Plácido, para tentar perceber como se manifesta, qual é o impacto da doença na qualidade de vida dos doentes, e a relação entre a Hipertensão Pulmonar e a Covid-19.
O que é a Hipertensão Pulmonar?
A Hipertensão Pulmonar (HP) consiste no aumento da pressão dentro das artérias pulmonares, os vasos sanguíneos que são responsáveis pelo transporte do sangue para os pulmões e pelas trocas gasosas. Neste sentido, a presença de HP sujeita o ‘lado direito’ do coração a um esforço supranormal, resultando na dilatação progressiva e disfunção do ventrículo direito e, por conseguinte, num conjunto de sintomas e sinais que denominamos por insuficiência cardíaca.
São muitas as doenças que se podem acompanhar de HP. Globalmente, as que encontramos mais frequentemente são as doenças que afetam o lado ‘esquerdo do coração’, como as disfunções valvulares e do ventrículo esquerdo, ou as doenças crônicas do foro respiratório, como a doença pulmonar obstrutiva crônica e a fibrose pulmonar.
Uma forma mais rara de HP, designada por Hipertensão Arterial Pulmonar (HAP), pode surgir sem causa aparente, denominada, neste caso, de idiopática, ou ser hereditária, estar associada a medicamentos/drogas ou surgir no contexto de doenças tão diversas como as do foro autoimune (ex.: lúpus, esclerose sistêmica), doenças cardíacas congênitas, doenças do fígado e a infeção pelo VIH. A HAP é habitualmente uma doença muito grave e evolutiva.
Outra causa de HP é o tromboembolismo pulmonar crônico. Neste caso, os doentes afetados apresentam redução do calibre e, até mesmo, obstrução das artérias pulmonares por coágulos, reduzindo, assim, o espaço por onde o sangue pode circular. Esta deverá ser sempre uma causa a considerar na investigação de qualquer doente com HP, uma vez que se trata de doença potencialmente curável.
Independentemente da causa, a existência de HP constitui sempre um marcador de maior risco, condicionando desfavoravelmente a qualidade de vida e reduzindo a longevidade dos doentes.
Quais são os sintomas? Que impacto tem a doença na vida diária dos doentes?
Os sintomas causados pela Hipertensão Pulmonar (HP) são inespecíficos e facilmente confundíveis com outras doenças, como o cansaço anormal para as atividades de vida diária, falta de ar e inchaço dos pés e pernas. Esta é uma das principais razões para o atraso no diagnóstico de doentes afetados, que continuam a chegar tardiamente aos centros de tratamento nacionais, por vezes em fases avançadas da doença, o que tem impacto negativo na sobrevida.
À medida que a doença se agrava, os sintomas começam a surgir para níveis progressivamente menores de esforço, podendo ocorrer em repouso, sendo altamente incapacitantes. Posteriormente, podem surgir queixas de tonturas, desmaios, aumento do volume abdominal, dor no peito e tosse.
Quem é mais afetado?
A Hipertensão Pulmonar (HP) representa um problema de saúde global, afetando todos os grupos etários. As estimativas sugerem uma prevalência de cerca 1% na população geral e de até 10% nos indivíduos com idade superior a 65 anos. Doentes com determinadas doenças cardíacas ou pulmonares poderão estar em maior risco de desenvolver HP.
No que respeita à Hipertensão Arterial Pulmonar (HAP), uma das formas mais raras e geralmente mais graves de HP, estão identificados fatores que se associam ao maior risco de desenvolver a doença, tais como: presença de familiares afetados por HAP, infeção pelo VIH, doenças autoimunes (em particular a esclerose sistêmica) e doenças do fígado.
Quando devemos procurar um médico e como é feito o diagnóstico?
Caso se verifiquem os sintomas referidos anteriormente, deverá ser programada uma consulta com o médico assistente (ex.: medicina geral e familiar). Em caso de suspeita de Hipertensão Pulmonar (HP), as recomendações internacionais estabelecem como primeiro passo a realização de uma ecografia ao coração (ecocardiograma), que é um exame de muito fácil acesso, não invasivo e totalmente isento de riscos, que permite avaliar a presença de sinais de HP. Habitualmente, a presença de HP tem de ser confirmada com a realização de um cateterismo cardíaco, um exame invasivo no qual é colocado, normalmente através de uma veia do pescoço ou do braço, um cateter até ao coração e artérias pulmonares, que possibilita a medição de pressões e fluxos.
Existem, ainda, outros exames de investigação que fazem parte do processo de avaliação, como o eletrocardiograma, análises ao sangue, TC de tórax, entre outros.
Perante a suspeita ou após confirmação de HP, o doente poderá ser referenciado para um centro nacional de tratamento especializado. Portugal tem uma adequada organização dos cuidados de saúde na HP, contando com centros de tratamento distribuídos por Lisboa, Almada, Porto e Coimbra. Nestes, concentram-se recursos humanos e técnicos que maximizam resultados na abordagem desta condição hemodinâmica, subjacente a uma multiplicidade de doenças distintas. O estudo e tratamento destes doentes é complexo e coloca desafios muito próprios, sendo essencial o contributo coordenado de várias especialidades médicas e técnicos de saúde.
Quais são os tratamentos?
O diagnóstico, classificação e abordagem terapêutica da Hipertensão Pulmonar(HP) obrigam a uma execução rigorosa e diferenciada de várias técnicas e da colaboração entre várias especialidades. Existem hoje múltiplas opções em termos de tratamento que podem melhorar drasticamente o curso desta doença, algumas delas potencialmente curativas. A referir que a escolha da melhor terapêutica depende sempre da correta classificação da HP, por entre uma multiplicidade de diagnósticos diferenciais possíveis.
Para as formas mais comuns de HP, como as associadas às doenças do ‘lado esquerdo’ do coração ou doenças pulmonares crônicas, o tratamento indicado é a otimização terapêutica da doença de base.
Nos grupos mais raros de HP, como a Hipertensão Arterial Pulmonar (HAP), surgiram nas últimas décadas novos fármacos eficazes no controlo dos sintomas, capazes de atrasar a evolução da doença e prolongar a sobrevida. Desde 2003, foram aprovados, em Portugal, dez fármacos para o tratamento desta doença e outros estão em processo de avaliação. Contudo, apesar dos enormes avanços na abordagem terapêutica e das melhores perspetivas para os doentes afetados, a HAP continua a ser uma doença ainda sem cura e incapacitante. O transplante pulmonar pode estar indicado nos casos em que a terapêutica médica máxima não teve sucesso.
Na HP associada ao tromboembolismo pulmonar crônico, uma forma de HP potencialmente curável, está indicada, na maioria dos casos, uma abordagem de desobstrução vascular, que pode ser cirúrgica – tromboendarterectomia pulmonar – ou por cateterismo – angioplastia pulmonar por balão.
Importa reforçar que o sucesso na HP depende da capacidade de todos os profissionais de saúde se lembrarem da sua existência e do diagnóstico precoce, em fases menos avançadas, das doenças que estão na sua base.
Hipertensão Pulmonar e Covid-19. Quais os riscos?
A Covid-19 é uma doença nova, existindo ainda informação limitada no que respeita aos fatores de risco para o desenvolvimento da sua forma grave. A pandemia atual é naturalmente uma preocupação acrescida para a comunidade de doentes com Hipertensão Pulmonar (HP). Não existe evidência de que doentes com HP tenham maior risco de serem infetados pelo vírus SARS–CoV-2.No entanto, assim como para outros grupos de doenças crônicas cardíacas e pulmonares, os doentes com HP terão maior risco de desenvolver doença grave em caso de infeção.
Fonte: Noticias ao Minuto